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Luz no Fim das Coisas
Na mitologia grega, Pandora abriu um vaso proibido e deixou escapar todos os males do mundo. Mas um detalhe costuma passar despercebido quando contamos essa história: no fundo do vaso, permaneceu a esperança. Uma última centelha, pequena, mas resistente, que sobreviveu ao caos. Não é por acaso que seguimos falando dessa história até hoje. Ela nos lembra que, mesmo em tempos escuros, há algo dentro de nós que insiste em esperar pelo melhor.
Esperar, aliás, é diferente de apenas desejar. Esperança não é uma torcida vazia ou uma fuga da realidade. É a capacidade de olhar para o futuro, mesmo incerto, e vislumbrar possibilidades. Não é sobre certeza, é sobre coragem. Heráclito já dizia: “Aqueles que não esperam pelo inesperado não o encontrarão.” Em tempos tão turbulentos, esperar algo bom pode parecer ingenuidade. Mas talvez seja exatamente o contrário: um ato de resistência.
A esperança se manifesta de muitas formas. Às vezes, como uma ideia que brota no silêncio; outras, como uma força que empurra alguém a tentar de novo. Ela não se vê facilmente, mas se sente. Está nos olhos de quem volta a estudar, nos passos de quem recomeça depois de um luto, no sorriso tímido de quem acredita que pode dar certo. É como visão noturna: só aparece quando tudo escurece.
Vivemos num tempo em que o medo parece estar em todo canto, nas manchetes, nas redes, nas conversas. O medo fecha, trava, paralisa. Já a esperança é expansiva. Ela não nega o problema, mas amplia a visão. Enquanto o medo pergunta “e se tudo der errado?”, a esperança responde “e se der certo?”. Entre os dois, cada um de nós escolhe a lente pela qual quer ver o mundo.
Esperança e medo convivem, às vezes no mesmo coração. E tudo bem, a coragem não nasce da ausência de medo, mas da decisão de seguir apesar dele. Talvez por isso tantas tradições religiosas e espirituais comecem suas mensagens com “não tenhas medo”. Não como uma negação do que sentimos, mas como um convite a olhar além. A esperança é isso: o desejo de atravessar, mesmo sem saber o que vem do outro lado.
Na Paraíba, vejo essa esperança todos os dias no agricultor que espera pela chuva, na mulher que empreende com pouco, no estudante que desafia as estatísticas. Não é esperança fácil. É esperança teimosa, suada, construída com esforço e fé. Uma esperança que não depende de frases prontas nem de promessas milagrosas. Ela brota porque a vida, mesmo dura, ainda vale a pena.
Mas nem sempre ela está acessível. Às vezes a desesperança toma conta. Tudo parece escuro demais. Quem já passou por depressão sabe como é quando até o otimismo desaparece. E nesses momentos, o mais importante pode ser simplesmente não soltar a mão de quem está do lado. Caminhar junto é um jeito de manter a chama acesa quando ela ameaça apagar. Às vezes, a esperança vem emprestada de um gesto, de uma música, de alguém que acredita por nós.
A ciência hoje estuda a esperança como um fator de saúde, de cura, de bem-estar. Há até instrumentos que medem o quanto uma pessoa é esperançosa. Mas talvez o mais importante não seja medir, e sim perceber: o que ainda nos move? O que ainda sonhamos em silêncio? O que ainda queremos ver acontecer, mesmo sem garantias? Essas perguntas valem mais que qualquer estatística.
Porque no fim das contas, a esperança é isso: um modo de viver. Um compromisso íntimo com a ideia de que a história não terminou, que ainda há páginas a escrever. Ela não garante finais felizes, mas nos dá motivos para continuar escrevendo. E talvez, só talvez, seja esse o segredo: não negar a escuridão, mas seguir em frente com a lanterna da esperança nas mãos.
Encontrar nosso caminho na escuridão não é sobre ver tudo claro, mas sobre não parar de andar. Porque a luz, às vezes, não está no fim do túnel, está dentro da gente.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
BOLETIM DA REDAÇÃO - 17/06/2025