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Braulio Lorentz, editor de Cultura do G1, lança seu 1º livro “Baseado em Hits Reais”

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publicado em 23/08/2025 ás 12h28
atualizado em 23/08/2025 ás 12h29

Kubitschek Pinheiro

Foto – Luiz Franco

O jornalista musical Braulio Lorentz, editor do G1 pop&arte, com passagens lança seu primeiro livro, a obra “Baseado em Hits Reais“. Um livro que desperta a curiosidade de meio mundo de gente, gente de música, gente que atravessou o túnel dessas canções e outras e tantas – O selo é Editora Máquina de Livros. A obra é um fascinante encontro, sobre os sucessos inesquecíveis que todos sabemos cantar, contados pelos artistas que muitos já esqueceram.

“Baseado em hits reais” já está livrarias do país, também disponível em e-book também em mais de 30 plataformas digitais.

O livro de Braulio Lorentz traz isso, o reencontro com esses hits – de “Mmmbop” a “Mambo Number 5”, “Mr. Jones” a “Barbie Girl” e outros. A sacada não foi voltar ao topo, mas formar uma identificação, para que esse som continue tocando por aí e um monte de histórias incríveis para contar.

O livro traz muito mais – traz à tona nomes que frequentaram o topo das paradas de sucesso nos anos 80, 90 e 2000, entre eles, Vanessa Carlton, DJ Bobo, Daniel Powter, Alexia, Natalie Imbruglia, as bandas Fastball, Couting Crows, Aqua e Chumbawamba. São mais de 40 artistas, incluindo brasileiros como Vinny, Kelly Key e o grupo Dr. Silvana & Cia. Lembram de “Sudenlly I See” a música eternizada no filme “O diabo veste Prada”. E Lou Bega, da banda EMF e da cantora KT Tunstall?

O autor, que é editor de Cultura do G1, conversou com o MaisPB e traz mais detalhes da obra. O lançamento nacional está marcado para o dia 28 deste mês em São Paulo

MaisPB – Vamos começar por ‘Suddenly I See’, canção interpretada por KT Tunstall que consta no primeiro álbum de estúdio da cantora escocesa, Eye to the Telescope e surge estupenda no filme “O diabo veste Prada”. Fala aí?

Braulio Lorentz – “Suddenly I See” é uma daquelas músicas que parecem simples, mas têm uma melodia e uma letra ao mesmo tempo interessantes e bem feitas. No álbum Eye to the Telescope, a estreia da KT Tunstall, ela já se destacava, mas aparecer na abertura do filme O Diabo Veste Prada deu outra dimensão à música. Ela se tornou quase uma personagem: ela traduz a descoberta, a sensação de encontrar seu lugar no mundo, que é exatamente o que a Andy, da Anne Hathaway, vivia. E isso é um ponto que sempre me chama atenção quando falo sobre hits: às vezes, não é só o refrão, é como a música consegue dialogar com o momento da vida de quem ouve. A música também é um retrato daquela fase do artista: neste caso, é o auge comercial da KT.

MaisPB – “Baseado em hits reais – Histórias de sucesso inesquecíveis contados por artistas esquecidos” – como veio essa ideia genial, de escrever sobre esses sucessos que caíram na vala?

Braulio Lorentz – Eu sempre fui colecionador de CDs e percebi que algumas músicas marcaram minha vida e a de amigos, mas ninguém lembrava quem tinha feito ou o que aconteceu depois. Fui investigando, conversando com artistas, lendo entrevistas antigas, e notei que havia uma lacuna: esses artistas eram lembrados só por aquele hit, e depois “desapareciam”. Quis contar essas trajetórias, ouvir o que eles tinham a dizer, entender como lidaram com o sucesso e depois com o declínio. É um livro sobre memória afetiva, mas também sobre a indústria da música, que é cruel e fascinante ao mesmo tempo. Você percebe que por trás de cada música que todo mundo conhece existe uma história de escolhas, sorte, talento.

MaisPB – O lançamento vai acontecer no dia 28 de agosto, no karaokê do Curtiça Bar, na Vila Madalena, em São Paulo. Seria bom que o livro chegasse até o Nordeste?

Braulio Lorentz – Sem dúvida. Tenho certeza de que esses hits marcaram pessoas em todo o país, e o Nordeste tem um público muito apaixonado por cultura pop e nostalgia. Além disso, muitos desses artistas fazem parte da trilha sonora da vida de nordestinos que ouviram esses hits no rádio, vendo clipes na TV, em novelas ou em festas. O livro pode ser comprado na Amazon e no site da editora Máquina de Livros.

MaisPB – E a sacolejante “Mambo number 5”, uma canção dance originalmente composta e gravada por Pérez Prado em 1949. Vamos falar sobre ela?

Braulio Lorentz – “Mambo Number 5” estourou em 1999 e levou Lou Bega, um alemão filho de mãe italiana e pai de Uganda, ao topo das paradas em mais de 20 países. A música mistura versos novos dele, como o famoso “a little bit of Monica, a little bit of Erica”, com um trecho do mambo original de Pérez Prado, e foi justamente essa combinação que virou hit global. Lou começou a carreira como rapper aos 13, viveu um fim de década intenso e encarou o sucesso aos 24, com shows internacionais, quase um Grammy e turnês pelo mundo. Ele enfrentou batalhas legais com os herdeiros de Prado, lidou com perdas pessoais, mas sempre manteve a relação com seu único hit, cantando-o até hoje em shows. O cantor vê o sucesso como produto, marca e aprendizado, sabe que não é fácil ser artista e que muitos colegas vivem depressivos ou sob pressão, mas encara com humor e resiliência, sem grandes planos, vivendo o presente e até celebrando pequenos prazeres como uma refeição. O resultado é a história improvável de um alemão que transformou um mambo cubano em fenômeno pop mundial com dançarinas brasileiras e um refrão que ninguém esquece.

MaisPB – Li que quando você começou a organizar por ordem alfabética os CDs veio o insite – eu tenho muitos CDs – há quem diga que o CD morreu, mas não me desfaço dos meus. Fala aí desta questão, quantos CDs você tem, por exemplo…

Braulio Lorentz – Tenho mais de mil CDs, e organizar por ordem alfabética me fez notar que tinha muitos discos de artista “sumidos”. É curioso perceber como certos artistas aparecem por lá na minha coleção. Muitos dizem que o CD morreu, e de fato o streaming domina, mas o CD tem algo que o digital não oferece: o encarte, a ficha técnica, as fotos. Cada CD é um livrinho, um objeto apaixonante e isso me ajudou a enxergar padrões, perceber hits esquecidos e construir a base do livro.

MaisPB – “Unbelievable”, da banda britânica de rock eletrônico EMF, que foi lançada como single em 1990 que esteve disparada no planeta – bora falar sobre essa canção?

Braulio Lorentz – “Unbelievable”, lançado pelo EMF em 1990, surgiu do nada e explodiu. Cinco jovens ingleses de 20 e poucos anos misturaram riffs insistentes, samples inusitados e trechos de discursos, e o resultado foi um hit mundial, tocando em rádios e festas brasileiras. James Atkin, vocalista, lembra que era ansioso e tímido no palco, diferente do clima de baderna dos colegas, mas aos poucos encontrou confiança, hoje ensinando música e produção para adolescentes em Yorkshire. A banda teve turnês pelo mundo, inclusive no Brasil, e viveu momentos intensos de fama e polêmicas.

MaisPB – Editor de cultura do G1, que trabalha com entrevistas de ex-hitmakers de todos os cantos do planeta, vamos falar dessa experiência?

Braulio Lorentz – Para mim, é fascinante ver como cada um lida com o próprio passado (alguns com orgulho, outros com certo incômodo) e poder mostrar ao público que, por trás de um ex-hitmaker, existe um artista com muito mais história do que a gente imagina.

MaisPB – Seu livro traz à tona esses nomes das paradas de sucesso nos anos 80, 90 e 2000 Vanessa Carlton, DJ Bobo, Daniel Powter, Alexia, Natalie Imbruglia, as bandas Fastball, Couting Crows, Aqua e Chumbawamba. Vamos falar da importância desses artistas?

Braulio Lorentz – Esses artistas ajudaram a definir o som de suas épocas. Cada um tem um hit que se tornou parte da memória afetiva de muita gente, seja “A Thousand Miles”, “Torn” ou “Barbie Girl”. Mesmo que muitos não tenham mantido a popularidade, essas músicas continuam sendo tocadas e influenciaram um pouco o pop atual. São artistas que mostram que o sucesso pode ser fugaz, mas o impacto de uma canção que toca muito é duradouro. O livro tenta resgatar isso: mostrar que essas histórias não acabaram, só mudaram de cenário.

MaisPB – Nesse meio de campo temos os brasileiros Vinny, Kelly Key e o grupo Dr. Silvana & Cia. Bora falar sobre eles, o trabalho etc?

Braulio Lorentz – No Brasil também tivemos fenômenos de hitmakers que sumiram. Vinny, Kelly Key, Dr. Silvana & Cia. capturaram o espírito de suas épocas, cada um à sua maneira. Suas músicas entraram na cultura popular, nas festas, nas rádios e ainda aparecem na memória coletiva, mas eles foram para outras áreas. O livro mostra que o fenômeno não é só internacional.

MaisPB – Você diz que “vários tiveram mais de um sucesso. Mas, depois, a maioria conviveu com a fama de fracassado, até desaparecer” – muito triste isso, é?

Braulio Lorentz – Pode ser considerado um pouco triste, mas faz parte da música. A indústria é assim: você pode estar no topo e, de repente, não estar mais. Mas todos esses artistas continuaram trabalhando, compondo, produzindo ou encontrando novos caminhos. O rótulo de fracassado é simplista. O livro tenta mostrar que existe vida e criatividade depois do hit, que o “depois” também merece ser contado. A trajetória completa é mais rica e humana do que qualquer rótulo de sucesso ou fracasso.