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Bacharel, Especialista e Mestre em Administração (UFPB/UNP). Mestre Internacional em Comportamento Organizacional e Recursos Humanos (ISMT – Coimbra/Portugal). Especialista em Neurociências e Comportamento (PUC-RS) e em Inovação no Ensino Superior (UNIESP). Membro Imortal da Academia Paraibana de Ciência da Administração (Cadeira 28). Professor universitário (UNIESP), consultor empresarial, palestrante e escritor best-seller da Amazon. E-mail: [email protected]

Liderar não é controlar

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publicado em 01/06/2025 ás 08h46

Na sala de reuniões de uma empresa em João Pessoa, o clima era de tensão constante. Cada e-mail enviado precisava ter o nome do gestor em cópia. Cada tarefa exigia um relatório diário. Decisões simples como a escolha do papel da impressora passavam pela aprovação do diretor. Situações assim parecem exageradas, mas infelizmente são mais comuns do que se imagina. Esse tipo de comportamento revela um estilo de liderança conhecido como microgerenciamento, uma prática que sufoca talentos, mata a inovação e transforma o ambiente de trabalho num campo minado de inseguranças.

O microgerenciamento se manifesta na obsessão por detalhes e na dificuldade de confiar. O líder que atua dessa forma se recusa a delegar, precisa controlar tudo de perto e acredita que só ele é capaz de tomar decisões corretas. Com isso, ao invés de conduzir uma equipe, acaba infantilizando profissionais adultos, experientes e capazes, que passam a se sentir desvalorizados e vigiados o tempo inteiro. É como dirigir com o freio de mão puxado: ninguém avança.

Entre os sinais mais evidentes de um líder microgerenciador estão atitudes como exigir estar em todas as conversas, pedir atualizações constantes, vetar iniciativas sem consulta prévia e centralizar absolutamente tudo. À primeira vista, pode parecer zelo. Mas, com o tempo, isso gera paralisia, insegurança e até desconfiança dentro da equipe. O excesso de controle comunica, ainda que de forma não verbal: “eu não confio em você”.

As consequências são visíveis. Empresas que cultivam esse tipo de liderança enfrentam queda na produtividade, altos índices de estresse e uma debandada silenciosa de profissionais competentes. A criatividade some, o engajamento desaba, e a organização vai perdendo sua capacidade de inovar e de reter talentos. O ambiente se torna tóxico, e os colaboradores deixam de se sentir parte de algo maior, passam apenas a cumprir ordens, com medo de errar ou de serem questionados a todo momento.

Mas é possível virar esse jogo. O primeiro passo é mudar a mentalidade do próprio gestor. Liderar não é ter todas as respostas, mas criar um ambiente onde as melhores respostas possam emergir. Isso exige confiança, clareza de objetivos e disposição para escutar. Delegar não é renunciar a responsabilidade, e sim criar oportunidades para que os outros cresçam. Uma equipe que se sente dona dos seus processos entrega mais, erra menos e inova com mais liberdade.

Estabelecer metas claras, por exemplo, permite que as pessoas saibam aonde devem chegar sem precisar de instruções passo a passo. Assim, a liderança passa a ser estratégica, orientando o destino sem ter que pilotar cada trajeto. Outro ponto fundamental é fomentar a autonomia: confiar que o colaborador pode encontrar soluções e fazer escolhas alinhadas com os valores e metas da organização.

A comunicação também é um pilar essencial. Um gestor presente, que escuta e dá feedbacks honestos, constrói laços de confiança mais sólidos do que aquele que apenas monitora relatórios. Perguntar como a equipe está se sentindo, entender os desafios reais do dia a dia e ajustar processos em conjunto é muito mais eficaz do que vigiar de longe com planilhas.

Além disso, investir em pesquisas de clima organizacional pode ser uma ferramenta poderosa para identificar sinais precoces de desgaste e insatisfação. Ouvir os colaboradores e agir com base nesses dados demonstra maturidade da liderança e cuidado com as pessoas, que deixam de ser apenas números e passam a ser vistas como protagonistas do sucesso coletivo.

Liderar bem é confiar, inspirar e permitir que as pessoas floresçam. Microgerenciar é o oposto disso: é podar o potencial antes mesmo que ele tenha chance de se revelar. Em tempos em que engajamento e criatividade são diferenciais competitivos, nenhuma empresa pode se dar ao luxo de sufocar sua própria equipe. Afinal, como dizem os bons líderes: quem controla tudo, acaba perdendo tudo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB