João Pessoa, 02 de maio de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Nas universidades, o conhecimento não se constrói sozinho. Projetos em grupo, debates, trabalhos colaborativos e práticas extensionistas fazem parte da rotina acadêmica não apenas para desenvolver competências técnicas, mas também para estimular habilidades socioemocionais como saber ouvir, negociar, respeitar diferenças e trabalhar em equipe. Mas, na prática, esse ideal muitas vezes colide com uma realidade mais dura: a dificuldade de conviver.
Cada vez mais frequente, os conflitos entre alunos dentro das turmas universitárias têm revelado um problema silencioso, porém profundo: muitos estudantes não sabem ou não conseguem trabalhar em equipe. Divergências banais escalam para brigas, desentendimentos se arrastam por semestres e o ambiente, em vez de formativo, torna-se hostil.
Professores, coordenadores e tutores acabam acumulando um papel para o qual, muitas vezes, não foram preparados: o de mediadores de crises interpessoais. Quando um trabalho em equipe desanda, o professor vira juiz; quando uma turma se fecha para um aluno novo, a coordenação é chamada para intervir. E no meio disso tudo, a aprendizagem sofre.
O que está acontecendo? Parte da resposta está no modo como lidamos com o outro em tempos de hiperconexão digital e isolamento emocional. Muitos alunos chegam ao ensino superior com lacunas importantes na formação social e emocional. Alguns nunca precisaram colaborar de verdade em projetos coletivos. Outros, quando não se encaixam imediatamente, se retraem e desistem.
O mais preocupante é que essa falta de integração não apenas compromete o rendimento acadêmico, mas tem levado alguns alunos a abandonar o curso. Sem conseguir se inserir nas turmas, sentem-se invisíveis, deslocados, sem pertencimento. E quando os grupos já formados não se mostram receptivos, a universidade, que deveria ser espaço de acolhimento e descoberta, se torna um território de exclusão.
É urgente repensar o papel das instituições diante desse desafio. Trabalhar em equipe não é apenas uma habilidade desejável é essencial para a vida em sociedade e para o mercado de trabalho. Mas ela não nasce por osmose. Precisa ser ensinada, cultivada e praticada com intencionalidade.
Talvez seja hora de abrir espaço para rodas de conversa, mentorias entre veteranos e calouros, projetos que promovam diversidade de vozes e metodologias que valorizem o processo e não apenas o resultado. Porque antes de formar profissionais, a universidade forma gente. E gente que sabe conviver, respeitar e colaborar é, cada vez mais, o verdadeiro diferencial competitivo de qualquer equipe.
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MOBILIDADE URBANA - 30/04/2025