João Pessoa, 22 de agosto de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Hoje é dia de folclore. E o folclore não está apenas nos livros de escola ou nas datas oficiais do calendário. Ele está, sobretudo, nas veias do povo, correndo vivo, como sangue que não se esquece de onde veio.
O Nordeste sabe disso melhor que ninguém. Aqui, cada canto tem sua lenda, cada feira tem sua música, cada fogueira tem sua história. O folclore mora na sanfona de um forró pé-de-serra, na zabumba que pulsa como coração sertanejo, no triângulo que marca o compasso da vida simples e grandiosa de nossa gente. Mora também nos cordéis pendurados em barbantes, levando poesia em papel barato, mas com valor de ouro.
O Nordeste ensina que folclore é resistência. É o reisado que dança mesmo diante da seca. É o aboio do vaqueiro, que ecoa nos campos como prece. É a ciranda que roda na beira da praia, unindo mãos calejadas, mãos de criança, mãos de avó. É o repente, que nasce improviso da boca de poetas populares e se transforma em literatura oral.
As lendas que nos acompanham desde sempre não são apenas histórias inventadas. São símbolos de medo, de fé, de esperança. O Saci, a Iara, o Curupira — todos eles conversam com a alma do povo, todos eles carregam lições escondidas, todos eles são metáforas vivas do nosso jeito de interpretar o mundo.
Mas o folclore também respira nas artes visuais e na criação de tantos mestres da terra. Os pintores que retratam o sertão com cores de sol e poeira, os artesãos que moldam o barro e fazem dele santos e pássaros, os escultores que dão forma à fé e à memória, os músicos que fazem da rabeca e do pífano verdadeiros altares sonoros. Cada artista nordestino é guardião desse patrimônio imaterial, porque transforma a cultura popular em eternidade sobre tela, madeira, argila ou partitura.
Celebrar o folclore é celebrar nossa identidade. É entender que sem cultura não há raiz, e sem raiz não há árvore que floresça. O folclore é o que nos ancora diante das modernidades apressadas; é o que nos lembra que um povo sem memória é como uma casa sem alicerce.
Por isso, hoje, ao lembrar do folclore, lembro também do meu Nordeste. Do povo que transforma dor em dança, que borda alegria em cada festa, que canta para sobreviver, que ri para não esquecer. Nosso folclore é a prova mais bonita de que o Brasil é plural, diverso, imenso.
Que nunca nos falte zabumba, cordel, aboio, ciranda. Que nunca nos falte memória. Porque, afinal, folclore não é coisa do passado: é chama que insiste em acender o presente e iluminar o futuro.
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