João Pessoa, 17 de outubro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Naquele dia, o açude de Jaca tomara água de montão e estava amostrado, pensando ser um açude grande, como o de Uiraúna. O da cidade, para se dizer cosmopolita, inchara de tamanho, parecendo mais um sapo cururu. Pense em um açude intrometido à besta!
Tínhamos que cruzar sua sangria para podermos chegar no grupo escolar Jovelina Gomes. A coisa era arriscada, mas nem tanto assim, afinal, quando se tem a idade de uma tenra Lua não é qualquer açude, ainda que fosse o vaidoso açude de Uiraúna em dia de menstruação, que pudesse nos meter algum espanto.
Hoje, olhando bem, eu diria: aquele “Leitinho” era um menino besta. Sei lá como, nem porquê, mas quando eu morava na rua Euclides Fernandes, na casa de Zé Leite, vizinho ao hotel de Nequinha, me chamavam “Leitinho”.
Claro, existia a molecada do bairro Cristo Redentor que me chamava “Leite de jumenta”. Melhor ser chamado de “Leite de Jumenta” do que de “figura lamentável”, como Fux foi chamando por Gilmar Mendes. Esse povinho…
Eu engolia o choro, inventava uma desculpa. Se meu nome era Francisco Leite, talvez fosse justificável que me chamassem “Leite de jumenta”. A mesma lógica para os que me chamavam, carinhosamente, “Leitinho”. Questão de perspectiva. Não acham?
E, bem diferente de Fux, porque nunca acreditei em terra plana, eu me fazia de desentendido. A molecada logo me esquecia. Havia grandes objetivos naquele garoto de 11 anos: pensar nos dribles que daria no campinho de futebol, empurrando, com capricho e expertise, a bola para o gol. Goooooool! Leitinhooooo! Na voz de Valdir Amaral, da Rádio Globo.
Ah, o segundo objetivo… A mais louca aventura do menino beradeiro do Sítio Saco. Para que tanto sacrifício? Morar em casa dos outros – foram 12 casas – comer rubacão com alho triturado e uma colher de óleo quente, economizar o nada para comprar duas bananas na mercearia de Gouveia…
Nada demais. Terça feira, Dona Expedita, a professora de Matemática, mostraria as notas. Dez! Razões e proporções estudadas na janela da minha casa à luz de lamparina. E no domingo, no jogo Areias versus Cafundó, o golaço seria meu. Digam: há motivos para não ser feliz? Não me responda, Fux.
@professorchicoleite
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