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Francisco Leite Duarte é advogado tributarista, auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, doutor em direitos humanos e desenvolvimento. Na Literatura, publicou os romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias (“Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas.

A revolta dos livros descarrilhados

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publicado em 08/08/2025 ás 07h26
atualizado em 08/08/2025 ás 07h38

No último dia 27 de julho, um caminhão, desses grandões e alfabetizados, tombou na Fernão Dias, km 584 – sentido Belo Horizonte – e, para espanto geral, espalhada no chão, sua carga lá ficou abandonada, desprezada, humilhada, como zé ninguém, sem valor algum.

Ninguém apareceu, para, dos livros, ter piedade, espiar a capa, abri-los, cheirar suas entranhas, correr a vista sobre as gravuras, um chamego qualquer em suas lombadas, surrupiar algum. Não. Ninguém.

Desesperados, os livros choravam: “Deus, meu Deus, nem a menina que roubava livros nos quer mais”.

Um dos livros mais afobados aduziu que talvez a menina tivesse sido abduzida por alguma rede social e estivesse fazendo alguma live sobre o jogo do tigrinho, aprendendo alguma dancinha do quadril, um curso de dois minutos de como ser empreendedora digital, ou quem sabe, apenas com as pernas para o ar, lendo algum livro comunista, tão somente isso…

Um primo seu (do livro afobado) retrucou que, de vera, os tempos estavam bicudos. Decerto, os leitores de outrora, hoje, estariam estupefatos, diante da TV, testemunhando a excrescência parlamentar do labor político: zombaria, deboche, extorsão, chantagem, o motim da extrema direita, o novo ou renovado golpe contra as instituições brasileiras.

Uma dessas cartilhas mais espiritualizadas, que já descambava para dentro das entranhas de um esgoto a céu aberto, aduziu em alto e bom som: “Socorro, socorro, cadê o nosso governador? Ele deve nos salvar…”

Embolada em uma gaitada nervosinha, uma cartilha anarquista debochava: “Hahaha, deixe de ser besta, comadre cartilhinha. Nosso governador, abrir um livro? Que louco! É tudo do esgoto bolsonarista!”

Um livrão, capa vermelho, totalmente fora da conversa, delirava com um filhinho nos braços: imaginem se os deputados brasileiros cerrassem as suas bocas, cada vez que pensassem em tortura e torturadores; imaginem se os parlamentares brasileiros se acorrentassem em defesa da saúde da população; imaginem se parlamentares brasileiros chantageassem os colegas em defesa do povo e não em defesa de criminosos…

Não entendi foi nada!

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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