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Francisco Leite Duarte é advogado tributarista, auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, doutor em direitos humanos e desenvolvimento. Na Literatura, publicou os romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias (“Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas.

O Todo

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publicado em 30/05/2025 ás 07h00
atualizado em 29/05/2025 ás 20h14

 

O Todo me fascina. Os seus instantes. Centelha dele, grão de nada e tudo a um só tempo, compomos essa sopa universal, a energia que é e aqui está, como me diz cada objeto que me cai à observação.

Não é preciso esforço para perceber quão grandioso é o encantamento da existência. Sonolento, abro a janela, sorvo o ar, estiro a vista, olhos embriagados, condição para enxergar essa verdade estonteante: tons de cores, sons, formas desdobradas em cada ser, muito embora haja um mínimo denominador comum entre eles. Tudo é o debulhamento de algo que tem a mesma natureza e consistência.

Uma pedra, testemunha do tempo, a solidão do seu estado contemplando o céu e seus mistérios. Nela, alguém já sentou; uma ave pousou, a chuva bateu, a lua alumiou, a pedra sorriu.

Além, um morro em meio a um prado verdejante, serpenteado por um córrego preguiçoso estampando seu cio e viço aos meus olhos embasbacados.

Ao pé da cerca, uma flor de gitirana. Pétalas orvalhadas e afoitas. Tão compenetradas que se tornam abobalhadas em seu ensimesmamento.

Acolá, um bem-te-vi sacode as penas em um galho de um Bougainville que enfeita a entrada de uma casinha branca, um portão acanalhado para quem quiser entrar. Dentro dela deve haver alguma mulher cozinhando a existência…

À entrada do portão, uma lagartixa gordona balança a cabeça. Decerto filosofa, de outra forma não estaria tão circunspecta, tampouco me olharia com cara de espanto.

O ônibus para. Um homenzinho entra. O chapéu cai da sua cabeça e se coloca, pelo vento, no topo de uma estaca. A estaca com o chapéu de palha parece um espantalho, mas não sabe que ficou parecido com o homenzinho. Eu rio.

Uma borboleta pousa na janela do ônibus. Coloco meu olhão dentro do olhinho dela. A borboleta quase tem um ataque do coração, mas se recupera, abre a bocarra e, de mim, forma um juízo mentiroso: “bicho feio!”

Para agradar o inseto belicoso, finjo concordar. O tempo me açoita. Curvo-me a ele, afinal somos a mesma realidade, por isso calibramos as nossas elucubrações e nos harmonizamos. Nada de brincadeira de meninos travessos e arengueiros.

@professorchicoleite

(Escrita autoral, 100% sem IA)

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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