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Francisco Leite Duarte é advogado tributarista, auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, doutor em direitos humanos e desenvolvimento. Na Literatura, publicou os romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias (“Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas.

Preta

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publicado em 25/07/2025 ás 07h00
atualizado em 24/07/2025 ás 19h34

Ainda que envolto em uma distopia sem precedentes – e logo vai passar, afinal Deus é brasileiro – o país, esta semana, sofre as dores pela perda de uma grande mulher, uma artística singular, um ser de luz. Preta Gil.

Tão jovem, tão vida, tão impecavelmente comprometida com a liberdade, a liberdade que, de fato, possibilita a evolução das pessoas, não a que ressoa na boca de reacionários, cuja função é comprimir a humanidade nos grilhões podres da hipocrisia.

Tem artistas e artistas. Poucos são Preta. Porque a Preta se incorporou em sua arte além da forma e da expertise da profissão. Preta, a própria arte que, autopoiética, desdobrou os impulsos da sua natureza em afirmação libertadora, como esses grãos teimosos que explodem em vida desabrochada e feliz.

Preta, a arte que se impôs além da riqueza atávica da família e do seu meio, porque toda folhagem retumbante avança para dentro de si, lhe dando luz, mas como sempre foi mensageira da missão das boas energias, avança seus galhos para quem deles precisar de sombra e guarida.

Preta, dessas meninas fofinhas que nasceu para ser pulsão de vida, deixa-la multicor e nela depositar o dom da alegria. Ora, ora: na alegria mora a essência revolucionária.

Preta nos disse isso: sê você, vá lá, brilhe. E de lição em lição, deixa 50 anos de sua vida como prova de que a autenticidade é atitude que liberta.

Cinquenta anos foram pouco. Sorte que o universo se recarrega de uma energia que se estende, diluída nos seus mistérios e territórios, pelos caminhos da infinitude. Preta e sua música; Preta e sua humanidade; Preta, suas vicissitudes e seus amores.

Impossível resumir Preta: liberdade de escorrer nos escaninhos da felicidade e da existência é dom de poucos. Preta brilhou com altivez e fez tremer muitas pessoas desencapadas do juízo, em cuja mente apodrecida, jamais poderia penetrar a serena paz dos iluminados.

Preta. Linda. Ousada, porque nos estertores do viver, só os superiores desfilam com facilidade a conquista das boas amizades e virtudes.

Preta. Linda, ousada, inteligente, viva. Preta é como essas almas, mil anos-luz de nossas limitações. Ah, se houver alma, deve ser Preta.

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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