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Graduada em direito e pós graduada em direito criminal e família, membro da academia de letras e artes de Goiás, tenho uma paixão pela escrita Acredito no poder das palavras para transformar realidades e conectar pessoas

Meu outro retrato

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publicado em 16/10/2025 ás 07h00
atualizado em 15/10/2025 ás 20h48

Diante do meu retrato, já não sou a mesma que busca o espelho para corrigir o tempo.
Há algo de sagrado no instante em que a arte me devolve — não a aparência, mas a alma.
Na concepção de Marcos Pinto, estou envolta em uma nuvem azul, celeste, quase divina.
É como se eu respirasse do outro lado da tela, sendo corpo e essência ao mesmo tempo.
A obra é um pacto silencioso entre o visível e o invisível.
Meu outro retrato chegou como um sonho lúcido, desses que a gente vive desperta,
um entrelugar onde os versos se dissolvem em cor e a memória se faz matéria.
Há um fio sutil que me prende ao que fui e ao que sou:
os traços dos olhos, o contorno dos lábios, o desenho do cabelo
tudo se une em perfeita harmonia, e ali estou inteira, suspensa entre dois mundos.
Talvez seja o sangue na pele que dá vida ao espiritual.
Ou talvez sejam as cores, o vermelho do fogo e o azul da poesia
que revelam essa duplicidade tão minha:
a menina e a mulher, ambas eternizadas na mesma tela.
Olho e me reconheço: é o barro do tempo, o mármore da lembrança,
a escultura viva que me traduz sem precisar de palavras.
Sorrio. Porque, enfim, compreendo —
sou eu, estelar, na obra do artista.

Não quero, à semelhança de Dorian Gray, que o meu retrato envelheça em meu lugar.
Quero permanecer bela como o instante em que fui capturada pela arte
bela como a visão que o artista fixou de mim,
legado que deixarei à posteridade diferentemente do que propunha Oscar Wilde.

Antônia Claudino
João Pessoa, outubro de 2025

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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