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Graduada em direito e pós graduada em direito criminal e família, membro da academia de letras e artes de Goiás, tenho uma paixão pela escrita Acredito no poder das palavras para transformar realidades e conectar pessoas

Inteira, nunca pela metade

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publicado em 25/08/2025 ás 13h02

Há quem tente decifrar a alma feminina como se fosse um enigma, mas não é fácil. Esquecem que não somos mistério para ser resolvido, mas universo para ser vivido. Eu, por exemplo, não me deixo prender em gavetas estreitas nem em definições fáceis. Sou claridade e sombra, calmaria e tempestade. Sou o riso leve de uma manhã de domingo e o silêncio profundo de uma noite que guarda segredos.

Carrego comigo a coragem de quem não se permite encolher. Aprendi cedo que o mundo testa os fortes, mas só resiste quem se mantém inteiro. E eu sou. Não metade, não retalho, não sobra: inteira. O que me move não é o que esperam de mim, mas o que eu espero de mim mesma.

Clarice Lispector dizia que liberdade é pouco. E eu entendo, porque não basta ser livre, é preciso ser inteira, ousada, verdadeira, adiante. A liberdade que busco não cabe em palavras prontas, que se resume a escolhas fáceis. Ela é feita de cicatrizes que me lembram guerras vencidas e sonhos que ainda podemos ter.

Sou delicada? Sim, quando o ocasião necessita. Se sou dura? Também, quando preciso. Em qualquer versão, sou autêntica, em qualquer estação. O mundo é o moinho de Cartola, a nos enquadrar em papéis, mas não nasci para caber em molduras. Transbordo, escorro, escapo. Sou vento que desmancha certezas e flor que insiste em nascer até no solo mais seco.

A vida já me arrancou lágrimas e me impôs silêncios. Já me provou perdas, dores e ausências. Mas em cada cicatriz há poesia. Em cada recomeço, um pedaço de eternidade. Não carrego culpas que não me pertencem, nem fardos que não escolhi. O que levo comigo é aquilo que me expande: a coragem de ser.

Olho no espelho e vejo mais que a imagem refletida. Vejo a mulher que o tempo forjou: firme sem perder a ternura, vaidosa sem deixar de ser simples, elegante sem precisar de rótulos. E ousada, sempre ousada, porque ousar é viver sem medo do próprio brilho.

E se me perguntarem quem sou, respondo sem rodeios: sou Antônia. Sou sertão e cidade, raiz e asa. Sou poesia em carne viva. Sou a mulher que se recusa a ser invisível. Sou, sobretudo, o que ninguém pode apagar: a certeza de que vim ao mundo para ser inteira.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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