João Pessoa, 19 de outubro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Uma história antiga que começou em 1930 e terminou (e nunca termina) em 1961, na República Dominicana: uma civilização chegando a 2 séculos, quase toda destruída pelo ditador Rafael Leonidas Trujillo Molina. Fecho os olhos, fecho o livro: ´A Festa do Bode´, romance de Mário Vargas Llosa, que arrasta uma crueldade sem limites, de uma história que me dá vontade de chorar.
Vamos começar por Minerva, que tinha esse nome, certamente, ligado a deusa romana. A Minerva da sabedoria, da justiça, equivalente a deusa grega Atena, frequentemente representada com uma coruja, além de um capacete, lança e escudo. O que mais chama atenção em seu personagem, é a coragem.
“Se me matam, levantarei meus braços e serei mais forte”, disse Minerva em resposta àqueles que a advertiram sobre sua oposição, que iriam matá-la. E matam numa emboscada, ela e as irmãs após terem visitado seus maridos, que estavam presos.
De volta para casa, as três irmãs Minerva, Patria e Maria Tereza Mirabal e o motorista Rufino de La Cruz são interceptados por um grupo de homens a serviço do ditador Rafael Trujillo, cujo intuito era destruir futuros. Lembrar que isso foi ontem e nada os impediu…
Direto ao assunto – a queda do ditador dominicano Rafael Leonidas Trujillo Molina, não é nada perto dos horrores que ele fez na República Dominicana. Não há antídoto contra esse mal. A ordem era matar mesmo, enforcados e espancados e todos os tipos de barbárie que sequer imaginamos.
´A Festa do Bode´ (2000) que só fui ler em setembro deste ano, mostra que Mario Vargas Llosa nos coloca de pé diante dos personagens que parecem equivocados e, a partir daí vem a genialidade do autor, que cumpre à risca o propósito de nos hipnotizar até o fim do livro. O enredo preenche 450 páginas.
Durante a obra somos guiados por cenas retroagidas e odiadas. A personagem Urania, radicada nos EUA por mais de 30 anos volta à República Dominicana para visitar o pai, Agustín Cabral, um dos aliados de Trujillo. Nesse tempo o pai estava muito doente, morre e ela nunca perdoou. Seu pai na época deixou que o ditador a abusasse sexualmente.
A segunda narrativa acompanha o próprio Trujillo e a forma com que ele se relacionava com as pessoas ao seu redor. Por fim, temos o grupo que trama o atentado contra o ditador, onde o leitor conhece um pouco da história desses personagens e o papel de cada um na conspiração.
À conclusão é que o livro é absolutamente necessário – missão que se torna ainda mais louvável quando levamos em conta a narrativa não linear apresentada, a qual foi pensada com muito cuidado para não se tornar duvidosa. Fato é que não existe a possibilidade do leitor largar o texto inteligente de Vargas Llosa.
A obra cruza o inferno de todos nós, com o auxílio da documentação e o ficcional, mas não foge da surpreendente literatura detalhista do escritor peruano. Só Vargas Llosa para descrever a Festa do Bode, com espaços imensos na literatura.
Kapetadas
1 – Só existe uma coisa mais falsa que a modéstia, promessa de mudança.
2 – Tá tudo tão falsificado que se comprar metanol, é capaz de vir leite.
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AUDIÊNCIA NA ALPB - 14/10/2025