João Pessoa, 19 de outubro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Os horrores do bode

Comentários: 0
publicado em 19/10/2025 ás 07h00
atualizado em 19/10/2025 ás 08h00

 

Uma história antiga que começou em 1930 e terminou (e nunca termina) em 1961, na República Dominicana: uma civilização chegando a 2 séculos, quase toda destruída pelo ditador  Rafael Leonidas Trujillo Molina. Fecho os olhos, fecho o livro: ´A Festa do Bode´, romance de Mário Vargas Llosa, que arrasta uma crueldade sem limites, de uma história que me dá vontade de chorar.

 Vamos começar por Minerva, que tinha esse nome, certamente, ligado a deusa romana. A Minerva da sabedoria, da justiça, equivalente a deusa grega Atena, frequentemente representada com uma coruja, além de um capacete, lança e escudo. O que mais chama atenção em seu personagem, é a coragem.

 “Se me matam, levantarei meus braços e serei mais forte”, disse Minerva  em resposta àqueles que a advertiram sobre sua oposição, que iriam matá-la. E matam numa emboscada,  ela e as irmãs após terem visitado seus maridos, que estavam presos.

De volta para casa, as três irmãs Minerva, Patria e Maria Tereza Mirabal e o motorista Rufino de La Cruz são interceptados por um grupo de homens a serviço do ditador Rafael Trujillo, cujo intuito era destruir futuros. Lembrar que isso foi ontem e nada os impediu…

 Direto ao assunto – a queda do ditador dominicano Rafael Leonidas Trujillo Molina, não é nada perto dos horrores que ele fez na República Dominicana. Não há antídoto contra esse mal.  A ordem era matar mesmo, enforcados e espancados e todos os tipos de barbárie  que sequer imaginamos.

´A Festa do Bode´ (2000) que só fui ler em setembro deste ano, mostra que Mario Vargas Llosa nos coloca de pé diante dos personagens que parecem equivocados e, a partir daí vem a genialidade do autor, que cumpre à risca o propósito de nos hipnotizar até o fim do livro.  O enredo preenche 450 páginas.

Durante a obra somos guiados por cenas retroagidas e odiadas. A personagem Urania, radicada nos EUA por mais de 30 anos volta à República Dominicana para visitar o pai, Agustín Cabral, um dos aliados de Trujillo. Nesse tempo o pai estava muito doente, morre e ela nunca perdoou. Seu pai na época deixou que o ditador a abusasse sexualmente.

 A segunda narrativa acompanha o próprio Trujillo e a forma com que ele se relacionava com as pessoas ao seu redor. Por fim, temos o grupo que trama o atentado contra o ditador, onde o leitor conhece um pouco da história desses personagens e o papel de cada um na conspiração.

 À conclusão é que o livro é absolutamente necessário – missão que se torna ainda mais louvável quando levamos em conta a narrativa não linear apresentada, a qual foi pensada com muito cuidado para não se tornar duvidosa. Fato é que não existe a possibilidade do leitor largar o texto inteligente de Vargas Llosa.

A obra cruza o inferno de todos nós, com o auxílio da documentação e o ficcional, mas não foge da surpreendente literatura detalhista do escritor peruano. Só Vargas Llosa para descrever a Festa do Bode, com espaços imensos na literatura.

 

Kapetadas

1 – Só existe uma coisa mais falsa que a modéstia, promessa de mudança.

2 – Tá tudo tão falsificado que se comprar metanol, é capaz de vir leite.

 3 – llustração – As irmãs Patria, Minerva e Maria Tereza Mirabal, integrantes do movimento revolucionário 14 de Junio e lutavam contra o regime do bode, Rafael Trujillo.
1 anexo

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

[ufc-fb-comments]