Eu gosto muito das canções praieiras e amorosas de Dorival Caymmi, como algo impregnado por uma extensão que vem das profundezas do mar da Bahia. Como é visível, observável, o talento dos filhos Dori, Nana e Danilo.  Num primeiro olhar, não há à falta da palavra,  e todos três gravaram a linguagem das canções do pai.

Requebra que eu dou um doce, requebra que eu quero ver;  um casaco bordô, um vestido de veludo, pra você usar. A vizinha quando passa com seu vestido grená, todo mundo diz que é boa, mas como na vizinha não há. Tantas que passam pelo Abaeté. no meio e uma lagoa escura, arrodeada de areia branca.

São tantas canções que ninguém fez igual, nem parecido. ´Acalanto´, foi a que Dorival Caymmi fez para a filha Nana, que já não respira mais esse Brasil confuso. Segundo o irmão Dori, quem cantou ´Acalanto´ primeiro foi Stela, sua mãe.   “Todos dormem, a noite também, só eu velo por você, meu bem, Dorme, anjo, o boi pega neném”

Na sexta-feira passada, eu estava deitado na rede e o telefone toca. Era Dori Caymmi, para agradecer o texto que eu havia escrito sobre Nana, dedicado a ele ao irmão Danilo. Eu que agradeci e falamos ao telefone mais de 20 minutos.

“Por mim ela continuaria cantando”, diz o irmão Dori e isso dele dizer continuaria, sem choro, bateu aqui em mim. “A Nana tinha um amor pelas canções, desde menina. Ela tinha um jeito de aprofundar na alma da gente, que não tinha igual. Nana começou cantando comigo, eu tocando violão, num programa da TV Tupi, chamado ´Canção de Nana´, na Urca, eu tinha 17 anos e ela 19. No início, Nana cantava Jobim, as canções de papai, de Vinícius de Moraes”, lembra Dori.

O último disco ´Nana Canta Tom e Vinícius´ com direção artística, violão e arranjos do irmão Dori Caymmi, é um álbum magnifico  e traz releituras de clássicos como “Eu sei que vou te amar” e “Canção do amor demais” compostas em parceria, assim como “Valsa de Eurídice”, de Vinícius e “As praias desertas”, de Tom. O disco marcou o retorno da cantora aos estúdios para gravar projeto solo após 10 anos. O álbum as cordas foi gravado pela Orquestra de Saint-Petesburg, na Rússia”.

“Um disco lindo que ela cantou comigo. Naquele tempo Nana estava Pequeri uma cidade mineira. Era difícil até se falar por telefone. Ela sempre ia para lá, papai tinha essa casa em Minas. E ficava temporadas. Eu segurei a mão dela, ela estava duvidosa de cantar. Gravei as bases, a orquestra e ela ficou encantada. Adorou gravar esse disco comigo. Foi bom pra ela. Eu tinha muito amor por Nana”, disse um Dori emocionado.

Nana foi a primeira cantora da família, depois do pai e da mãe: “ela cantou Acalanto na Teve Tupi. Mamãe cantou primeiro com meu pai, gravaram com o arranjo de Guerra. Eles cantavam juntos, papai e mamãe, até que Nana a substituiu e cantou Acalando, dai não parou mais”.

“Ela começava a cantar, esmagava a canção com os dedos. Nana cantava por prazer”, diz o irmão mais velho.

O resto da conversa com Dori  Caymmi é privada, são coisas deles, da intimidade da família, o sentimento entre irmãos e não vamos escrever aqui. Ela o chamava de Dorivazinho.

Nana agora é só silêncio e foi tudo a partir do silêncio. O silêncio não fala, o silêncio é sua voz.  

Kapetadas

1 – O domingo é bastante estimulante: é dia de aperfeiçoar a inércia.