João Pessoa, 09 de junho de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Quem nunca sentiu aquela vontade espontânea de ajudar alguém, mesmo sem esperar nada em troca? Esse impulso, tão humano, muitas vezes nasce da empatia, essa capacidade de se colocar no lugar do outro e sentir o que ele sente. Curiosamente, mesmo o egotismo, aquele sentimento de valorizar a si mesmo, também pode nos levar a atitudes altruístas, quando percebemos que ajudar nos faz bem e fortalece nossa autoestima. A vida é cheia de exemplos em que essas duas forças, aparentemente opostas, se encontram e se complementam.
Pense, por exemplo, em alguém que mudou de cidade diversas vezes durante a infância, precisando, a cada ano, fazer novos amigos, adaptar-se a novos ambientes e observar silenciosamente as dinâmicas sociais ao seu redor. A dor de ser sempre o “novato” pode, paradoxalmente, ter despertado nesse alguém uma capacidade imensa de perceber as necessidades dos outros e de desejar ajudar, mesmo que, muitas vezes, esse apoio não fosse aceito por quem o via apenas como um forasteiro. Essa experiência, apesar de solitária, forjou uma sensibilidade rara.
Só mais tarde, quando a vida permitiu permanecer mais tempo em um mesmo lugar, essa pessoa pôde finalmente transformar sua empatia em gestos concretos, ajudando de maneira efetiva e construindo vínculos duradouros. Assim, a empatia amadureceu, alimentou um altruísmo genuíno e, de quebra, fortaleceu sua própria autoestima. Esse movimento é mais comum do que parece: quando ajudamos, sentimos que pertencemos, que somos úteis e, principalmente, que nossa vida tem significado.
Há quem diga que todo ato altruísta, no fundo, tem algo de egotismo, porque, de alguma forma, quem ajuda se sente bem. E está tudo bem. Não há nada de errado nisso. Muitas vezes, fazemos o bem e, em troca, ganhamos elogios, reconhecimento ou simplesmente aquela sensação íntima de satisfação. Mesmo quando ninguém vê, ajudar o outro é um jeito de aquietar a nossa consciência, de aliviar o desconforto de ver alguém sofrendo.
Por outro lado, há quem acredite que a verdadeira empatia é capaz de gerar um altruísmo puro, sem interesse algum além do desejo sincero de aliviar a dor do outro. Quando sentimos empatia, não precisamos de um cálculo racional de custos e benefícios. O impulso de ajudar brota de maneira quase automática, como se fosse parte da nossa própria natureza. E talvez seja mesmo: pesquisas mostram que a empatia tem raízes genéticas e neurológicas, o que significa que estamos biologicamente programados para cuidar uns dos outros.
Estudos apontam que certas áreas do nosso cérebro são ativadas quando sentimos empatia, e até já se descobriu a existência dos chamados “neurônios-espelho”, que nos ajudam a simular internamente o que o outro está vivendo. Ou seja, quando vemos alguém triste, nosso cérebro responde como se fôssemos nós mesmos naquela situação. Essa incrível capacidade é uma das bases do comportamento altruísta e reforça a ideia de que somos seres profundamente sociais.
E como cultivar ainda mais esse altruísmo? Um caminho é reconhecer que não há problema nenhum em se sentir bem ao ajudar. Pelo contrário: essa sensação é um reforço positivo que nos estimula a continuar fazendo o bem. Participar de ações voluntárias, por exemplo, é uma forma concreta de exercitar a empatia, contribuir com a comunidade e, de quebra, fortalecer nossa própria autoestima. Muitas pessoas começam como voluntárias e, depois, descobrem uma verdadeira vocação para trabalhar ajudando outras pessoas.
Além disso, compreender que o altruísmo não precisa ser grandioso é libertador. Pequenos gestos diários, ouvir com atenção, oferecer ajuda a quem precisa, ter paciência com quem está passando por um momento difícil, já são manifestações poderosas de empatia. Esses gestos criam uma rede invisível de apoio e generosidade que transforma ambientes, comunidades e até a sociedade.
O perdão e a gratidão também nascem desse mesmo lugar. Quando somos capazes de perdoar, aliviamos o peso que carregamos e abrimos espaço para relações mais saudáveis. Quando expressamos gratidão, reconhecemos o valor das pequenas coisas e fortalecemos nossos vínculos. A empatia, o egotismo saudável, o altruísmo, o perdão e a gratidão são como peças de um mesmo quebra-cabeça, que, quando montado, revela a imagem de uma vida mais leve, significativa e conectada.
No fim, talvez o grande aprendizado seja este: ajudar o outro não é um sacrifício, mas uma oportunidade de crescer, de se conhecer e de se conectar com o que há de melhor em nós. Que possamos, então, exercitar diariamente essa força silenciosa que é a empatia e permitir que ela nos conduza a um caminho mais solidário, mais humano e, principalmente, mais feliz.
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