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Francisco Leite Duarte é advogado tributarista, auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, doutor em direitos humanos e desenvolvimento. Na Literatura, publicou os romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias (“Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas.

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publicado em 05/12/2025 ás 07h11

O mundo é cheio de artistas, mas muitos deles morrem de fome ou vivem uma vida mequetrefe, embora cheia de lantejoulas compondo a fantasia.

Zé Luiz era uma artista. Não pelo “fominha” que era, quando jogava bola. Dribles desconcertantes, a barriga farta de carências. Um sorriso grandão, a boca cheia de dentes esperando a morte chegar, cantarolando Raul Seixas.

Micharias, o maior deles. Mentia feito uma criança desesperada para entender o mundo. Na verdade, só queria puxar, pelos cabelos, um caminhão dos grandões e ganhar um trocadinho. Eu juro. Eu vi, em uma noite das antigas, no povoado de Areias.

Show de Duca (sim, esse é o apelido dele). Se um avião com a perna quebrada, ou sem pé nem cabeça, parar por aí, Show inventa uma asa gigante e põe o bicho para voar.

Dona Raquel, que me acolheu por dois anos em sua casa, uma simples manjedoura. Artista de mão cheia. Sua panela de feijão rendia mil pratos nos dias de feira na cidade de Uiraúna. Como era muito talentosa, enfeitava o rubacão com banana verde, comprada na bodega de Gouveia, e eu, como sempre admirei os faz-de-conta da invenção, imaginava que aquilo era uma ceia de natal.

Dedé, minha querida irmã. Não porque seus bordados eram mais bonitos do que os cueiros dos anjos mais privilegiados. Por isso, não, mas Dedé abriu a casa para quem dela quisesse pouso, paz e cafezinho.

É isso: todos os artistas são riachos sem início e fim, porque eles são o próprio movimento.

Lá em casa só nasceu artista. Flaviana aprendeu, sem cursos nem guia algum, a fazer vestidos de boneca. Como é uma artista fora da curva, até hoje faz os vestidos de noiva mais lindos do mundo, agora profissionalmente.

Ana de Veizé. Que madrinha! Deu-me, em sua casa, uma surra na sueca, embora, eu, um imbecil de carteirinha, estivesse com o az de trunfo. Isso foi pouco, aos seis anos de idade, por recomendação da minha madrinha, tomei chá de merda de cachorro contra um sarampo que me consumia.

Erundina. Ela é de Uiraúna e ponto. Quem dança naquele sol, voa.

Eliete, essas minhas irmãs… Uma poesia feita de uma gaitada só. A paciência ali se deitou para dormir.

Palmas! Tem mais? Sim, tem. Os artistas pululam por aí.

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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