João Pessoa, 12 de outubro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Se os começos valem para alguma coisa e valem muito, os fins podem sim justificar os meios. Se antes buscávamos a longevidade de uma relação e ainda estamos nessa, principalmente uma relação de amizade, que é a mais valorosa que possa existir. Seguimos a essência.
A relação de pai e filhos que não se enquadra nesse contexto, são relações do ventre, engendradas, profundas, que crescem juntas, na formação de uma nova pessoa, embora muitos filhos matem seus pais – mas aí são criminosos.
A beleza de uma relação que brota da natureza humana, da fonte da linguagem, da língua dos homens de boa vontade que ainda anseiam possuir uma dialeto que atravesse gerações, algo mais que uma canção, a paz na Terra.
“O meu melhor amigo está me deixando aos poucos”, escreveu Augusto Nascimento sobre seu pai, o cantor Milton Nascimento, que foi diagnosticado com demência por corpos de Lewy. Fiquei a pensar em tantas vezes garoto, vi gente assim no sertão de mim.
Um coração e outro e nenhum pesa mais que um adeus, um aceno, uma vontade de viver mais tempo junto de alguém, até o amém.
Milton Nascimento está na voz de Elis, na voz dele, a mais intensa e mais bonita voz que ouvimos, ouviremos, até quando não existirmos mais.
As canções de Milton parecem à procura de uma definição da natureza, dos amores, uns que se aguentam, outros que se sustentam, como a justificar a continuação da vida e, já agora, a entrega a esse ofício da finitude. Li que ele não consegue mais se alimentar.
Somos feitos para construirmos, nunca simulacros para gerar uma sensação de profundidade. Uma pessoa com demência se apresenta simbolicamente, por um pássaro enfiado numa gaiola a não mais viver o ritual de sobrevivência, em pequenos voos. É lindo vê-lo cantando ´Nas asas da Panair´ gravado em 1975, no álbum Minas.
Não há queixas, não deve haver. Quantas conversas tiveram o filho Augusto com o pai Milton, sobre a história das canções, coisas do ´Clube da Esquina´, que o Augusto nem existia, mas o cuidado do filho com o pai é um elo nunca perdido.
Expressões, ciclos, táticos, lembrando um organismo entregue a um cultivo detalhado de tudo quanto somos capazes de fazer um pelo outro, do respirar a propagação do sagrado.
Isso dele dizer “O meu melhor amigo está me deixando aos poucos”, a madurez da sua fala impregna os gestos mais afetuosos e nos lembram que não devemos desistir, ao perder o outro.
A tarefa da beleza é uma rajada a fazer de nós homens formas parecidas, já o divino escreve-se seguidamente numa radiosa luz.
Coração americano, acordei de um sonho estranho, um gosto de vidro e corte, um sabor de chocolate, no corpo e na cidade, com sabor de vida e morte, sei que nada que será como antes, amanhã, Paula e Bebeto, peixes, pétalas, como nascem e se dobram no fim.
Milton é só canções lindas que não estão nos dicionários. Maria, Maria, Maria, uma certa magia, uma força que invade a gestação do homem e que todas mães se reconheçam, do poema Drummond que ele musicou.
Kapetadas
1 – Troque a morte da Odete por um castigo pra ela. Qual seria?
2 – Parem de olhar pelo lado ruim. Ao diminuir o consumo de destilados, vamos evitar consequências horríveis do álcool como mandar mensagem pro ex
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VEREADOR QUESTIONA - 09/10/2025