João Pessoa, 21 de setembro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Abraços escassos

Comentários: 0
publicado em 21/09/2025 ás 08h07

Alô, quem é? Tenho comigo, desde sempre a vontade de abraçar. Acho que é o afeto mais antigo que o aperto de mãos, que, dizem, representa: “estou sem armas” mas o tiroteio não cessa. Hoje as pessoas acenam uns para outros ou fazem de conta que não estão se vendo. Tal como as sensações, os abraços originam-se dos movimentos.

Meu irmão William Pinheiro, (foto) quando era coordenador do Curso de Publicidade e Propaganda do Uniesp, criou uma campanha e nas camisetas frases estampadas no peito: ´me dá um abraço/ posso te abraçar?´. Claro que as camisetas representavam mais que um abraço.

Tenho sido abordado diversas vezes nas ruas, por pessoas que me seguem no Instagram e pergunto logo: posso te abraçar? Não custa nada. Sou do tempo da delicadeza.

Um limão que a limonada alcança, já é um pouco de saúde, mesmo quando falta um pedaço da canção de Djavan – “na pureza de um limão, ou na solidão do espinho” Nem tudo são flores.

Um papel em branco e um lápis azul para desenhar um sol amarelo, é mais bonito e personaliza, que milhares de pessoas que estão ocupadíssimas, apressadas, sumidas, a mil, para ver a próxima postagem.

Tenho comigo um embornal lotado de saudades e não consigo “matar” essa saudade a cada reencontro, além das incertezas, esperanças tardias e temores, de que estamos noutras conexões.

Um testemunho às claras – a pessoa agora escreve no Zap – “posso te ligar?” Ué, somos ou não somos amigos? E quando não tinhamos esse tal de Zap, o som do telefone provocava uma sensação maravilhosa, e logo se ouvia – ´deixa que eu atendo´. Tá ligada, tá ligado?

Mensagens de parabéns de pessoas queridas enviadas pelo Zap, não funcionam. Não, até ‘um gambá cheira o outro’. Mandar mensagens tiradas da Internet enviadas para os amigos no dia do aniversário, vem da luz das pilhas – tire a mão da consciência, põe a mão na consciência.

É meu coração quem desnuda os sentimentos.

Conheço uma pessoa, sem pai nem mãe, que tinha maior consideração, um benfeitor das coisas bacanas, hoje se quer atende as ligações, mas repete o refrão no zap: “é muita coisa na minha cabeça” Ora, amigos inteligentes não se utilizam de filosofias baratas, mas o barato sai caro.

Eu jamais vou eliminar o excesso de paisagem, a beleza das casas, a hora do almoço, a paixão do texto, a produção e o reconhecimento, jamais.

Simplificaram tudo em mensagens e tudo tem que ser pra ontem. Não é assim, aqui não é um parlatório, é só um jeito de corpo, nada de cobrança, mas o assunto não é esse – o abraço está escasso.

Eu quero banir a inutilidade de conversas rasas, “tá linda, adorei, você é mil, você é o máximo, sempre maravilhosa, sextô, palminhas”. Sim, eu sei que é legal poder dizer não, mas a geometria do sim é a velha dedicatória.

O banquete é sua presença meu amor. Seja no gozo falante, no sol semântico iluminando, e aproveito pra mandar um abraço pra ti, pequenina, da canção do Gonzaga, da Sebastiana e da Januária, que fechou a janela e foi dormir.

Kapetadas

1 – Só no Brasil tem coqueiro que dá coco?

2- A conversa contemporânea é uma fila educada: cada um espera a sua vez de falar de s

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

[ufc-fb-comments]