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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O cínico Borges

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publicado em 10/08/2025 ás 07h00
atualizado em 10/08/2025 ás 08h11

Conheço poucas pessoas que leram Borges ou que leem Borges. Eu sou uma delas.

Outro dia li uma entrevista da ensaísta Ilza Matias de Souza, de 1968, exímia leitora de Borges, que fala na “paisagem eletrônica” e nas mutações culturais –  ela vê no horizonte de Borges a ficção e o lugar do sujeito humano de sua inteligência imaginante, em face às inteligências artificiais que produzem imagens digitais.

Para ela, Borges desempenha o papel de um filósofo cínico, ao modo de filósofos da antiguidade grega, indiferente às conveniências sociais, escapando de enveredar num humanismo impotente ou de conferir à ficção a capacidade de salvação da realidade. É, faz sentido.

O tom do cinismo borgiano é feito para desmascarar ou ferir de morte o discurso “pedagógico” da nação e do sujeito nacional, articulando um discurso performativo. Ou seja, discurso de nada.

Conheço leitores de Machado de Assis, Guimarães Rosa e do venerado Ariano Suassuna, esse, são muitos, são grilos de olho nos arco-íris agarrados aos seus celulares, que estão por aí em as mutações ambulantes.

Em solo Tabajara, há uma escritora que poucos sabem dela, que incorpora a aurora da autora de ´Perto do Coragem Selvagem´ e sabe tudo de Clarice Lispector, mas Clarice é um mistério. 

Focado na ficção, o lugar do sujeito otário, que se diz cronista, contista, mas não passa das armadilhas. 

Conheço poucas pessoas que leram Borges. Eu sou uma delas.

Pessoas que batem palminhas para tudo, numa relação direta com o desafio sistemátricotradicional e se vem consagrados sem colocar em xeque as suas ideias ou ideais. Dá no mesmo, né?

Gente hospitaleira, muita comida na mesa e de inteligência rasa, em face às inteligências artificiais que produzem milhares de imagens banais, tal e tal.

Notadamente o poeta, o artista e o dândi ainda transformam o risco da foice e do machado. O dãndi ainda existe?

Conheço os que ainda adoram o Che Guevara e chegam a tê-lo no trancelim no videoperformance emblemático de uma série de contradições inerentes ao velho projeto revolucionário, que tem em sua nécessaire muitas urdiduras e nada mais.

De pronto me vem o nome de Oswald de Andrade.  Quem foi Oswaldo de Andrade? Quem foi Lee Oswald, que ainda hoje, dizem, agiu sozinho em Dalas. Esse leu Borges?

A antropofagia oswaldiana, a meu ver, diante de um pobre-diabo imortal da APL,  este, traz o mesmo caráter de encenação de onde salta o bravo calabouço para instaurar  o caos num único manifesto, que jamais Borges escreveria.

Conheço poucas pessoas que leram Borges, eu sou uma delas. Borges sozinho interveio e lançou sombras sobre a ilusão de transparência do primeiro blefe que se engendrara.

A alegria e o cinismo de Borges vem de longe, de um canto libertador, um tanto de tango, o gozo total, um pouco da vida, muitíssimo de sutileza, sagacidade e muitas noites argentinas delirantes com os seus seres imaginário, personagens do livro lançado em 1957.

 

Kapetadas

1 – De gente que tem certeza que vai pro céu, o inferno está cheio.

2 – Tirando Lula e Bolsonaro, quem poderia governar o Brasil?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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