João Pessoa, 27 de setembro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Andando pela Rua Machado de Assis ( onde faço o podcast ´K Pra Nós, centro de João Pessoa), avistei uma cartomante, como se quisesse a aurora, senti um cheiro diferente. Nesse instante, não vi as cores nem as casas, quase daltônico, eu estava noutro lugar, indo para o meu acaso.
Fiquei trêmulo, comovido, quase cego das cores de Adriana Calcanhoto, tentei ver pelos olhos dela, as cores que eu não sei o nome, as cores de Frida Kahlo, cores, cores, cores.
A rua cheia de Castanheiras, mas o cheiro era das Amendoeiras e me veio novamente os versos de Adriana Calcanhoto, “pra que amendoeiras pelas ruas? Para que servem as ruas?”
O cheiro da Amendoeira sem ela existir ali, na Rua Machado de Assis, um aroma que vinha de outro lugar. Logo fui transferido para o Parque da Jaqueira, em Recife.
Descobri que não existem Amendoeiras em João Pessoa, porque uma resolução municipal proibiu o seu plantio devido à queda de folhas e frutos, que entupiam os bueiros. Nada quero, pouco espero.
Drummond criou a expressão “fala, amendoeira”, à qual Guimarães Rosa retorquiu com “cala, amendoeira”. Mas o que me tocou, antes de sentir o cheiro, antes mesmo de identificar essa árvore, também chamada chapéu-de-sol, foi o cheiro dela, que eu não sabia de onde vinha.
Cheiro que de início eu nem sequer associava a uma árvore, mas a alguma emanação misteriosa. Porque a Amendoeira, mais raro ainda é localizá-la quando, só de vez em quando, ela exala.
Como posso explicar a Amendoeira, se ela me impregnou com seu teor de resina, que não sei se é da folha, do tronco ou do fruto.
Olhei ao redor e não vi a árvore. Imediatamente reconheço o cheiro tenaz, indomesticável. Ah! Ontem à tarde reencontrei a pAz.
Aspirá-lo é sentir um quê de selvagem no ar civilizado. Assim, uma experiência sempre breve, da qual espero apenas que volte a acontecer.
Fiz a viagem de ida e volta, mas pra que a gente quer saber que horas são, pra quer tanta pressa, tanto sim, tanto não, tanta descrição, se o significado de Amendoeira é renascer.
Kapetadas
1 – O infinito dá o que pensar. Porém a finitude dá muito mais.
2 – Ou restaure-se a invulnerabilidade ou anistiemo-nos todos.
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 26/09/2025