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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Amendoeiras

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publicado em 27/09/2025 ás 07h00
atualizado em 26/09/2025 ás 21h11

Andando pela Rua Machado de Assis ( onde faço o podcast ´K Pra Nós, centro de João Pessoa), avistei uma cartomante, como se quisesse a aurora, senti um cheiro diferente. Nesse instante, não vi as cores nem as casas, quase daltônico, eu estava noutro lugar, indo para o meu acaso.

Fiquei trêmulo, comovido, quase cego das cores de Adriana Calcanhoto, tentei ver pelos olhos dela, as cores que eu não sei o nome,  as cores de Frida Kahlo, cores, cores, cores.

A rua cheia de Castanheiras, mas o cheiro era das Amendoeiras e me veio novamente os versos de Adriana Calcanhoto, “pra que amendoeiras pelas ruas? Para que servem as ruas?”

O cheiro da Amendoeira sem ela existir ali, na Rua Machado de Assis, um aroma que vinha de outro lugar. Logo fui transferido para o Parque da Jaqueira, em Recife.

Descobri que não existem Amendoeiras em João Pessoa, porque uma resolução municipal proibiu o seu plantio devido à queda de folhas e frutos, que entupiam os bueiros. Nada quero, pouco espero.

Drummond criou a expressão “fala, amendoeira”, à qual Guimarães Rosa retorquiu com “cala, amendoeira”. Mas o que me tocou, antes de sentir o cheiro, antes mesmo de identificar essa árvore, também chamada chapéu-de-sol, foi o cheiro dela, que eu não sabia de onde vinha.

Cheiro que de início eu nem sequer associava a uma árvore, mas a alguma emanação misteriosa. Porque a Amendoeira, mais raro ainda é localizá-la quando, só de vez em quando, ela exala.

Como posso explicar a Amendoeira, se ela me impregnou com seu teor de resina, que não sei se é da folha, do tronco ou do fruto.

Olhei ao redor e não vi a árvore. Imediatamente reconheço o cheiro tenaz, indomesticável.  Ah! Ontem à tarde reencontrei a pAz.

Aspirá-lo é sentir um quê de selvagem no ar civilizado. Assim, uma experiência sempre breve, da qual espero apenas que volte a acontecer.

Fiz a viagem de ida e volta, mas pra que a gente quer saber que horas são, pra quer tanta pressa, tanto sim, tanto não, tanta descrição, se o significado de Amendoeira é renascer.

Kapetadas

1 – O infinito dá o que pensar. Porém a finitude dá muito mais.

2 – Ou restaure-se a invulnerabilidade ou anistiemo-nos todos.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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