João Pessoa, 27 de setembro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Graduada em direito e pós graduada em direito criminal e família, membro da academia de letras e artes de Goiás, tenho uma paixão pela escrita Acredito no poder das palavras para transformar realidades e conectar pessoas

O real e o delírio

Comentários: 0
publicado em 27/09/2025 ás 07h00
atualizado em 27/09/2025 ás 08h50

Nunca vi um fantasma de perto, mas acredito que existam ao menos para aqueles que ainda duvidam que o homem pisou na Lua. Hoje, quem anda distraído já não é chamado de sonhador, e sim de portador de um diagnóstico. O que antes era considerado devaneio, agora é laudo médico.
Razão excessiva também tem seu preço. Quando tudo precisa ser provado, a vida empobrece. Há gente que se orgulha de duvidar de tudo, até do que já se sustenta. Chamam de método, mas, no fundo, é medo de confiar.
Visionários são raros. Quem ousa relatar o inusitado quase sempre vira anedota. Talvez seja uma forma de escapar de uma realidade engessada, inventar seres de outros mundos para suportar este aqui.
Não me sinto mal por não seguir a multidão. A apatia me parece a verdadeira epidemia. Ser feliz, para mim, continua simples: abrir um livro, caminhar no mar, estar perto de quem amo. Isso não precisa de receita, nem de manual.
O medo, porém, virou negócio. Indústrias inteiras se alimentam dele. Doenças, violência, angústia — tudo pode ser transformado em mercadoria. Quem lucra com a cura, muitas vezes lucra ainda mais com a impossibilidade dela. Assim seguimos, consumindo ansiedade empacotada.
Existe, contudo, um hábito que nunca deve ser curado: imaginar. É um vício fértil, próximo ao realismo mágico, onde animais falam e pessoas atravessam o impossível. Outro vício igualmente vital é o desejo — sem ele, a linguagem seca. Quem escreve sabe: palavras não são apenas material, são sangue e respiração.
Enquanto isso, a engrenagem segue funcionando. Máquinas cozinham, cortam cabelo, escrevem textos. A tecnologia copia, mas não sente. E nós nos dividimos entre viver de fato ou apenas representar.
A felicidade é sempre individual. O coletivo, muitas vezes, serve apenas de fachada para negócios. Crianças viram vitrine digital para alimentar ambições familiares, enquanto a vendedora de milho na calçada não tem seguidores, mas tem fila. Talvez seja ela quem entende melhor o que é existir.

E diante disso tudo, me pergunto: será que penso para viver, ou vivo apenas para pensar?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

[ufc-fb-comments]