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Juiza de 9a Vara Civel de João Pessoa. Especialista em Gestão Jurisdicional de Meios e Fins e Direito Digital

A Janela para um Novo Olhar

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publicado em 26/09/2025 ás 11h17

 

A promessa de um mundo onde a informação se entrelaça diretamente com nossa percepção da realidade nunca esteve tão próxima. A Meta, gigante da tecnologia, surge com sua mais recente inovação, através dos óculos digitais que prometem redefinir nossa interação com o ambiente. Não são meros acessórios, mas sim portais para uma experiência aumentada, capazes de projetar dados e alertas diretamente no campo de visão do usuário, funcionando como um smartphone integrado e uma câmera sempre à disposição para registrar o instante. Imagine caminhar pelas ruas e ter informações sobre pontos turísticos, traduções instantâneas ou até mesmo um lembrete d o próximo compromisso, além de hora e mapas, tudo sem tirar o celular do bolso.

Essa fusão de visão e tecnologia transcende o conceito tradicional de lentes. Os óculos da Meta são projetados para serem uma extensão quase imperceptível de nós mesmos, um dispositivo que oferece uma camada digital sobre o mundo físico. A possibilidade de fazer uma chamada, enviar uma mensagem ou gravar um vídeo com um simples comando de voz ou gesto, sem a necessidade de telas ou botões físicos, é um vislumbre do futuro que a empresa almeja. É a concretização de um sonho antigo: ter o conhecimento do mundo ao alcance dos olhos, de forma intuitiva e imersiva.

No entanto, a ideia de aprimorar a visão humana não é recente. Uma retrospectiva nos leva aos antigos persas, que, há milênios, já experimentavam com pedras polidas e lentes rudimentares para magnificar objetos ou corrigir imperfeições visuais. Embora longe da sofisticação digital de hoje, esses primeiros “óculos” eram um testemunho da incessante busca humana por expandir suas capacidades sensoriais. Eram objetos de admiração e utilidade, frequentemente associados a sábios e estudiosos que buscavam desvendar os mistérios do universo através de uma visão mais clara.

A verdadeira revolução na correção visual, contudo, ganharia forma na Europa medieval, por volta do século XIII, com o surgimento dos primeiros óculos de grau usáveis. De simples armações de madeira ou osso, presas ao nariz, a evolução foi gradual, mas constante. No Renascimento, figuras como Leonardo da Vinci já se debruçavam sobre a ótica, e nos séculos seguintes, os óculos se tornaram não apenas um instrumento de auxílio, mas um símbolo de intelectualidade e status, ganhando refinamento em seus designs e materiais, de tartaruga a ouro.

O salto do puramente corretivo para o tecnológico começou a se desenhar no final do século XX e início do XXI, com protótipos e conceitos de “smart glasses“. Embora o Google Glass, por exemplo, tenha enfrentado desafios em sua popularização, ele pavimentou o caminho para a aceitação da ideia de tecnologia vestível no rosto. A integração de câmeras, microfones e pequenos displays começou a transformar os óculos de um simples acessório óptico em um dispositivo de comunicação e computação, borrando as fronteiras entre o que víamos e o que nos era apresentado digitalmente.

Hoje, os óculos digitais da Meta representam o ápice dessa jornada milenar. Da pedra polida persa à maravilha tecnológica que projeta o próprio telefone em seu campo de visão, a evolução dos óculos é uma crônica da ambição humana em transcender seus limites.  O futuro da visão não é apenas corrigir, mas sim aumentar, conectar e imergir, prometendo uma era onde a realidade é tanto física quanto digitalmente enriquecida.

Adriana Barreto Lossio de Souza

juiz, poetisa, escritora, mestranda, mulher, mãe e cidadã

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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