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A FAMÍLIA BUSCAPÉ

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publicado em 02/05/2025 ás 18h35

A FAMÍLIA BUSCAPÉ

Certa vez, assim que me mudei para João Pessoa, fui fazer compras no Supermercado Manaíra, vulgo “Seu Dedê”. Era uma sexta-feira à noite. Eu estava exausta, porque o expediente, na época, era das 12h às 18h, e sair do fórum numa sexta à noite já era uma experiência, ainda mais ir para o supermercado.

Quando finalmente cheguei à fila — que estava quilométrica —, havia, à minha frente, quatro figurinhas. Creio que fossem irmãs, pelos traços físicos e pela semelhança na idade: uma verdadeira escadinha.

Dava para identificar quem era a mais velha, as do meio e a mais nova. Também era fácil notar quais eram as mais estressadas, as mais zen, as casadas e as solteiras, as falantes as mudas, as que falavam gritando e as que falavam baixinho, era uma confusão!

Elas falavam sem parar, colocavam e tiravam coisas do carrinho, passavam produtos no caixa e, ao verem os preços, mandavam cancelar. A moça do caixa chamava a supervisora para excluir as operações, e a fila se enrolava pelos corredores.

Em dado momento, mais uma pausa: surge a mãe das figuras, carregando uma cestinha com seis marcas diferentes de papel higiênico — consequentemente, com preços diferentes, que, por sinal, ela nem tinha conferido os preços antes de pegar das gôndolas.

Penso que cada marca era para cada uma das filhas, pois se não morassem juntas, não brigavam tanto. Sem olhar o preço, mandava a caixa registrar cada item. Após ver o valor, pedia para cancelar. Nesse meio-tempo, as irmãs brigavam — cada uma queria uma marca diferente. Cada uma agarrada a um fardo de papel higiênico, enquanto metade da fila ria e a outra metade reclamava da demora.

Lá pelas tantas, depois de brigarem por causa do preço do iogurte, uma delas perguntou onde estava o saco com as calcinhas que havia comprado nas Lojas Americanas. Imagine a cena! Bem alto, ela bradou que ia processar o supermercado por furto das calcinha, pois aquilo era um absurdo!

Então a irmã mais nova perguntou o que era aquilo que ela tinha debaixo da bolsa de mão. Exatamente: o saco das Lojas Americanas. Envergonhada, vermelha como um camarão, para não sair por baixo, perguntou a uma das irmãs, por que tinha colocado o saco embaixo da sua bolsa de mão. Foi aí que a briga começou de vez — quase saíram aos tapas, creio que para disfarçar a gafe da infundada acusação.

Ao final, depois de tanta confusão, para encerrar a compra, a matriarca — que até então não havia aparecido — surge com uma nova cestinha contendo outras seis marcas de papel higiênico.           Ela mandava a pobre da operadora de caixa verificar o preço de um por um. E a supervisora já estava de prontidão, esperando o que mais elas iam aprontar.

E, como não se agradou dos preços, decidiu devolver tudo e voltar para a gôndola para procurar algo mais em conta, causando mais demora e mais irritação do povo que estava na fila.

Por fim, voltou com aquela pior marca de papel higiênico, tão ruim que era cinza, sob o olhar de protesto da fila e das filhas. A mais velha reclamava porque queria o Neve Seda, as outras do meio queriam o papel Personal, e a mais nova pedia uma marca ecológica. A matriarca pagou o mais barato mesmo — aquele que parecia reciclado — e encerrou, enfim, a epopeia das compras, para alívio da fila que precisava andar.

Depois que foram embora, consegui, finalmente, passar minhas compras. Foi quando a operadora do caixa comentou que já estava acostumada com elas. Eram conhecidas como a família Buscapé e sempre apareciam no final do expediente, sempre com um tumulto diferente.

Esta é da série das crônicas curtinhas: um breve relato desta família Buscapé — que, infelizmente, não tive mais o prazer de reencontrar. Ainda, assim, todas as vezes que vou ao Seu Dedê, olho ao redor com esperança, na expectativa de topar com elas. E, quando lembro dessa história  dou boas gargalhadas.

Adriana Barreto Lossio de Souza

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB