João Pessoa, 23 de novembro de 2025 | --ºC / --ºC
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Escrever é acima de tudo é uma arte. Para fazê-lo o escritor precisa ter um motivo, uma inspiração, de um mote. Trocando em miúdos, uma situação que lhe remeta à possibilidade de se debruçar sobre o universo da escrita, antes com tinta, caneta e papel, máquina de datilografar, hoje através do teclado do computador.
Artistas, poetas e escritores precisam de um argumento. Para uns, um estado de alegria e regozijo, para outros, um estado de puro sofrimento e dor.
Vinícios de Morais (1913-1980) compunha suas músicas acompanhado de um bom whisky. Balzac era adicto ao café (tomava até 50 xícaras de café por dia) para se manter acordado. Ernest Hemingway dizia “escreva bêbado, edite sóbrio.
Agatha Christie (1890-1976) gostava de escrever deitada na banheira. Fernando Pessoa colecionava cerca de 70 pseudônimos, além de ser supersticioso e de hábitos controversos, fumava mais de 80 cigarros por dia, gostar de escrever em pé.
Alexandre Dumas (1802-1870), escritor francês dos “Três Mosqueteiros e o “Conde de Monte Cristo”, quando começava a escrever, não parava e não gostava de ser interrompido, precisava de silêncio absoluto para se inspirar.
Kafka pediu a seu amigo Max Brod, que queimasse todos os seus manuscritos após a sua passagem dessa para melhor. Pedido este não atendido, sendo publicado “O Processo” após sua morte, inclusive estou lendo no momento.
Nabokov (1899-1977) escreveu “Lolita” sequencialmente em fichas, que lhe permitia retrabalhar em qualquer parte da história, guardando-as numa caixa.
Todas essas idiossincrasia revelam que a criação literária não segue um padrão, muito menos tem um manual. Ela advêm de um fluxo orgânico, muitas vezes fruto do caos que habita no ser. Às vezes ela necessita de um incremento como a falta de realidade, uma taça de vinho, um copo de whisky, o aroma forte de um café, muitos cigarros, o silêncio de uma madrugada ou até mesmo o relaxamento provocado por horas numa banheira. Afinal, como diz o ditado popular, cada doido com sua mania!
Cada artista com sua excentricidade, desenvolve seu próprio método para ingressar na chave da imaginação. O que nos parece peculiar, para eles, um rotina sagrada, um ritual que desvenda palavras e dá formas às ideias que, se fosse de outro jeito, talvez estas permanecessem prisioneiras da mente.
A escrita não segue um protocolo, um roteiro, um padrão. Mas surge do modo de viver intensamente, de observar, de sentir e de se transmutar. Ela é a ponte entre a experiência individual e a memória coletiva, a voz que ecoa para além do tempo e do espaço.
É justamente nessa tapeçaria de métodos pouco comuns, de paixões e obsessões, de medos e aconchegos, que reside a beleza inesgotável do escritor pela capacidade de tocar almas, de fazer rir chorar, de sonhar e questionar, de trazer à tona a discussão, de acalentar e encantar com seus personagens e histórias, que dão asas à imaginação, ingrediente secreto e necessário para aquele que pretende escrever.
Afinal, cada escritor com seus hábitos, suas manias necessárias para buscar no fundo da alma a devida inspiração. Eu ainda não tenho nenhuma, mas quem sabe…
ADRIANA BARRETO LOSSIO DE SOUZA
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