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Falar não custa nada. Mas escrever, na época da 4ª geração da revolução industrial, custa caro. O Código de Hamurabi, ao ser escrito no século XVII a.C., foi considerado como uma das mais importantes codificações da história, repousa serenamente no Museu do Louvre, após ser descoberto por uma expedição francesa em 1901, em Susa, na Pérsia. Não gastou muito para ser escrito, a não ser pela cunhagem do artefato ferroso sobre a pedra.
Hoje, os meios de comunicação evoluíram, bem como a escrita. Graças à internet, capaz de transitar quase que imediatamente a informação, dispensa-se muito do uso do papel. Permitiu-se que se reduzisse a utilização de papel, posto que não mais se usam cartas, mas sim o correio eletrônico. Trocamos a comunicação, antes tão formal, através dos memorandos e ofícios de papel, pelo meio digital.
De um lado, a sustentabilidade deste meio pareceu ser a primeira premissa. Tomando-se como modelo o Judiciário, neste ambiente o processo de papel foi trocado pelo digital, após a implantação do Processo Judicial Eletrônico, havendo uma redução significativa no consumo e utilização de recursos naturais, pela migração do meio físico para o virtual, reduzindo-se, também, os deslocamentos dos processos para os tribunais. Minimizado o desmatamento das florestas para o consumo dos derivados de celulose, bem como água potável, solventes, energia — o que representou uma economia considerável em termos de material impresso, mantendo-se somente o consumo de papel com relação aos serviços internos, de forma drástica.
Igualmente, as administrações dos governos aderiram aos meios digitais. Hoje, pouco se lê no papel, e a preferência, inclusive das gerações mais jovens, é pela leitura no tablet, computador e Kindle, reduzindo-se consideravelmente o consumo de meios impressos, como livros, jornais e revistas.
A sustentabilidade traz em si uma ideia de segurança, manutenção e garantia, dentro de uma abordagem de equilíbrio em qualquer esfera do desenvolvimento, que deve estar alinhada às dimensões econômica, social, cultural, espacial, ambiental, política e institucional, com a utilização dos recursos naturais de maneira que melhor possa gerar benefícios materiais imediatos a quem os explora, reduzindo o desperdício nos hábitos de consumo da população em geral, com prevenção da poluição, uso sustentável de recursos, mitigação e adaptação ao clima e proteção ao meio ambiente.
Embora exista uma economia real para a natureza, quando se fala em consumo de papel, essa economia não é tão verdadeira quando se fala nas tecnologias da informação, no tocante a energia elétrica e água, visto que se de um lado se economizou a celulose, de outro o gasto energético dos data centers das grandes Big Techs, para processamento dos dados nos setores de IA e criptomoedas é enorme.
Segundo Marques Peres, pesquisadora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) e do Centro de Inteligência Artificial (C4AI), financiado por FAPESP e IBM, um computador individualmente falando, não representa uma grande demanda de energia, mas quando se trata de milhares de máquinas trabalhando juntas, ou muitos computadores com processadores poderosos operando 24 horas por dia, sete dias por semana, estes representam um gasto elevado e um grande desafio para a sustentabilidade.[1]
Já a cientista da computação Thais Batista, presidente da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e professora do Departamento de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), destaca que “todas as atividades digitais, como navegar na internet, acessar redes sociais, participar de videoconferências e enviar fotos, têm efeitos sobre o meio ambiente”, porque a energia destinada aos data centers dos provedores de serviços são usados não apenas para a operação dos servidores, mas para manter em funcionamento seu sistema de refrigeração. Isso ocorre porque os computadores, trabalhando juntos, aquecem, emitem calor e precisam ser resfriados e mantidos em uma temperatura razoavelmente baixa.[2]
Estima-se que a computação é responsável pelo uso da energia elétrica, representando cerca de 5% a 9% da produzida no mundo, sem falar no consumo de água, que os data centers das grandes Big Techs (Google, Meta, Amazon et al.) necessitam para manter a refrigeração deste meio, respondendo por 1,7% dos gases estufa produzidos no mundo inteiro.¹
Com isso o uso global de eletricidade pode aumentar até 75% até 2050, impulsionado pelo crescimento dessa tecnologia,² levando essas grandes empresas investirem em diversificadas fontes energéticas para alimentar os gigantescos data centers e os modelos de IA, apostando inclusive na energia nuclear, bem como na solar fotovoltaica e na eólica, em um esforço para mitigar suas pegadas de carbono.
Desde o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, a inteligência artificial generativa evoluiu de maneira exponencial, tornando-se uma ferramenta revolucionária na criação de textos, ilustrações, vídeos. Porém, essa IA generativa veio acompanhada de um impacto energético alarmante.
Para se escrever um texto de 100 palavras no ChatGPT, estima-se que há um consumo de, em média, 519 mililitros de água. O The Washington Post, em conjunto com investigadores da Universidade da Califórnia, Riverside, realizou uma pesquisa sobre o consumo anual de água, caso apenas 10% da força de trabalho dos EUA utilizasse este serviço semanalmente. O consumo anual de água ascenderia para mais de 435 milhões de litros — o suficiente para abastecer todas as casas de um estado como Rhode Island, com um milhão de habitantes, durante um dia e meio.[3]
Mais de 50% dos data centers das Big Techs do planeta localizam-se nos Estados Unidos. Na medida em que os data centers efetuam milhares de cálculos necessários para cada resposta, os servidores que os operam geram enormes quantidades de calor e, para evitar o sobreaquecimento, o sistema necessita de um complexo sistema de arrefecimento constante, que utiliza água para transferir o calor para torres de resfriamento. Este processo é comparável à forma como o suor arrefece o corpo humano. Em zonas onde a água é escassa, são utilizados sistemas de ar-condicionado elétrico, à custa de um maior consumo de energia e água.
Um único data center do Google na cidade de The Dalles consumiu 1,35 bilhão de litros de água, em 2020, para refrigerar seus mais de 200 mil servidores que armazenam e processam dados. Este impacto ambiental, segundo a Agência Internacional de Energia, se compara ao consumo anual de energia de um país como o Japão.
Uma pesquisa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), publicada neste mês de maio de 2025, revelou que um vídeo de cinco segundos gerado por inteligência artificial (IA) pode consumir a mesma quantidade de energia que um micro-ondas ligado por uma hora.[4]
Enquanto as empresas não assumirem seu papel para proteger o planeta, como bem pensou Hans Jonas, nós devemos cobrar a parcela de responsabilidade delas, a fim de proteger o planeta para as gerações futuras. O debate sobre o impacto climático da inteligência artificial deve continuar, cabendo a nós, consumidores, o papel fundamental de exigirmos mudanças na renovação das fontes energéticas em prol de todos.
ADRIANA BARRETO LOSSIO DE SOUZA
[1]https://outraspalavras.net/outrasmidias/ia-big-techs-e-a-pegada-digital-na-crise-climatica/
[2]Ibidem
[3]https://www.nationalgeographic.pt/meio-ambiente/sede-chatgpt-quantidade-agua-consumida-pela-ia-e-alarmante_5618
[4]https://sinttec.org.br/pesquisa-alto-custo-energetico-ia-criacao-videos/
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 03/07/2025