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Paraibano da Capital. Tocador de violão e saxofone, tenta dominar o contrabaixo e mantém, por pura teimosia, longa convivência com a percussão, pandeiro, zabumba e triângulo. Escritor, jornalista e magistrado da área criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba.

         MIGUELÃO E MIGUILIM

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publicado em 20/11/2025 ás 15h16
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Por esses dias Miguel de Britto Lyra Filho foi empossado como Desembargador no Tribunal de Justiça da Paraíba, pelo sacrossanto critério da Antiguidade. Bendito critério, justo, implacável, inapelável: o Juiz  mais antigo, aquele que há mais tempo se dedica ao mister, é promovido. No caso de Miguelão, quase 40 anos ininterruptos. Há promoção mais justa?

Miguelão não precisou dos óculos de Miguilim, de Guimarães Rosa, para enxergar o mundo. Saiu desbravando e descobrindo por conta própria, sem um pai que o guiasse e protegesse das intempéries. O Sr. Miguel de Britto Lyra partiu cedo, aos 33 anos, e involuntariamente deixou a responsabilidade com Dona Nelce. A empoderada jovem senhora encarou, e foi pai e mãe , para Miguelão e Valência. Deu no que deu, criou duas pessoas trabalhadoras, honestas, responsáveis, que só deram orgulho à zelosa mãe.

O professor de Português e Literatura Brasileira deixou marcas e lições preciosas aos seus alunos, entre os quais me incluo. Vejo-o ainda em sala de aula recitando versos do DE BEATA VIRGINIE DEI MATRE MARIA, de José de Anchieta, ou ainda, com sorriso irônico, pérolas de Gregório de Matos. Até hoje debatemos, vez em quando, Gregório, Eça, Machado, Zé Lins e Augusto.

Vida de professor é dura, muito trabalho, poucos meios. Percebendo cedo a realidade, decidiu submeter-se ao concurso para Juiz de Direito, logrando aprovação. O professor largou o giz , vestiu a toga.

Como esperado, o clichê “chegou ao auge da carreira da magistratura”, em algum momento foi dito. Para mim, Miguelão chegou ao auge da carreira quando foi para a Comarca de Rio Tinto. Seu acurado senso de Justiça, sua retidão , seu profundo conhecimento do Direito, já o levaram no auge  para a primeira Comarca.

De poucas, mas certeiras  palavras, ironia fina e humor sofisticado, Miguelão segue pela vida, angariando admiradores de todo o gênero. Um deles, meu pai, que por ele nutria admiração e respeito. Vez em quando eu cuidava em alimentar esses sentimentos. Chegava e dizia: “Pai , não tem Miguel?” Ele, “tem”. “Pois, pai, Miguel não bebe, não fuma, não joga , não dança, não namora em pé,  não sai de casa vestindo uma bermuda nem camisa de meia.” Os olhos do velho Osias Lopes pareciam brilhar: “Tá vendo, isso é que é um homem de respeito”. Fechava a expressão e arrematava: “Você devia seguir o exemplo”.

Bem que eu tentei.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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