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Era assim que Getúlio Vargas iniciava seus discursos. Com sotaque gaúcho e tudo, carregando no L de Brasil. Penso que o caudilho tentava evidenciar o relevo de quem trabalha. Ele, aliás, quem fez valer a nossa Consolidação das Leis do Trabalho, regulamentando as relações trabalhistas no país.
Segundo a tradição judaico-cristã, o homem não precisaria trabalhar. Tinha tudo provido por Deus , no Jardim do Éden. Vida boa e fácil. O trabalho surgiu como castigo pela desobediência. Está escrito lá no Gênesis, capítulo 3, verso 17, com todas as letras: “ E disse em seguida ao homem: Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida”.
Para não deixar qualquer dúvida, mais adiante, no verso 19 do mesmo capítulo, o Senhor arremata: “ Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado porque és pó, e pó te hás de tornar.”
A conclusão é forçosa, para os que creem, o homem não foi projetado para trabalhar, e sim, para viver de folga , desfrutando das belezas da vida. Deve ser a explicação para tanta gente que não gosta de trabalhar. Só pode ser. Eu que trabalho ininterruptamente desde os 15 anos de idade, ando perto de completar o Jubileu de Ouro do labor, acho estranho, mas, é fato.
Há quem faça da vagabundagem arte, passando pela vida sem dar um prego numa barra de sabão. Alguns são afortunados, e herdam fortuna dos pais e avós. Outros, menos favorecidos pela sorte, especializam-se em “encostar” em quem trabalha, seja marido, esposa, irmão, avô, tio, sobrinho. Em casos mais agudos, até parentes distantes e conhecidos servem de suporte para o vagabundo. Essas pessoas vão entrando na vida do outro de forma tão sutil, que a vítima nem percebe, por muitos anos, que está carregando um peso morto. Quando se dá conta, já bancou o ocioso por muitos anos. As vezes, tarde demais.
Existem, é verdade, casos extremos. Adoniran Barbosa levou para o rádio personagem inspirado em seu amigo real “Mata-Ratos”. No dizer do poeta, o amigo era “inimigo mortal de qualquer atividade que se assemelhe, por pouco que seja, a trabalho”. Meu avô contava que conhecia um homem, meio amalucado (será?) que andava com uma faca peixeira na cintura, procurando o homem que inventou o trabalho, para desferir-lhe facada mortal. Quem mandou inventar essa tortura?
Mas, requinte mesmo na preguiça, encontrei em Arimateia. O “Teinha da rede”, como era conhecido, por motivos óbvios. Arimateia desenvolveu com afinco, se é que essa palavra possa ser usada tratando-se de Teinha, a capacidade de não fazer absolutamente nada. O dia inteiro deitado na rede, entre as árvores do quintal. A noite, a rede ia para dentro da casinha humilde. Nunca consegui descobrir, com certeza, de que vivia. Comentava-se na Comarca, que era “encostado” do INPS, embora aparentasse saúde de ferro. Aposentado não era, pois, andava pelos 40 anos, se tanto.
Certa feita, em alegre conversa (ótimo papo), em frente à farmácia, disse-me que acordava muito cedo diariamente. Demonstrei surpresa: Como assim, Arimateia, se você não trabalha? Respondeu com um sorriso maroto: “É para ficar mais tempo sem fazer nada, doutor” .
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 15/07/2025