João Pessoa, 27 de agosto de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
São 5h40min da manhã e uso a primeira senha do dia para desbloquear o celular a fim de ver a hora. Em seguida, mais duas senhas para abrir as portas de casa. Por volta das 7h30min, chego ao fórum e utilizo mais uma senha, desta vez para abrir o computador. Outra senha logo em seguida, para entrar no sistema do TJ, a fim de acessar a intranet. Mais uma senha, desta vez para entrar no PJe, e, adiante, mais senhas para usar os Sistemas do CNJ Corporativo.
O dia vai se esvaindo, e o uso das senhas se acumulando. Para abrir o banco virtual, a fim de fazer uma transferência; para fazer pagamento via cartão de crédito; entrar no e-mail pessoal; para acessar uma rede social; para abrir o aplicativo da Distribuidora de Petróleo para abastecer o carro; outra para efetivar o pagamento no posto de gasolina e mais uma para verificar o código e obter o desconto do aplicativo.
E, como se não bastasse, hoje uma única senha não é suficiente, porque há a autenticação em duas etapas, que exige uma aplicação adicional, com número enviado por SMS, WhatsApp ou por telefone, para verificação da operação, que ainda pode ser enviada para o e-mail secundário, para receber uma sequência numérica e abrir o aplicativo.
A cada dia, é preciso administrar mais senhas, mais códigos, mais sequências de números, preencher formulários e fazer login. E não é só isso: ainda há o reconhecimento biométrico, reconhecimento facial, sem contar no reconhecimento da íris, como nos aeroportos mais modernos.
E elas não param, porque, fora estas, ainda há a senha para ingressar no portal das operadoras de telefonia, do Wi-Fi, Drop box, do iFood, Netflix, Amazon, Deezer, Spotfy, Booking, Hoteis.com. Expedia, Mercado Livre, das companhias aéreas, nos portais do governo, universidades, hospitais. Cada instituição com seu portal, com seu login e sua senha, com sua autenticação em duas etapas, e a burocracia que antes era no papel, agora passou para o mundo virtual, através de senhas e etapas de verificação de segurança que não param mais.
Quem diria que não precisaríamos mais das chaves de metal? Que os chaveirinhos de souvenir das viagens ficariam sem serventia, trocados por senhas alfanuméricas, que, para aumentar a segurança, recomendam-se mais complexas, ditas fortes, aquelas que combinam letras maiúsculas e minúsculas, números e caracteres especiais, são um pouco mais longas e precisam ser mudadas a cada 30 dias, por questões de segurança. E, ainda assim, os hackers de plantão encontram uma forma de invadir sua vida virtual, roubar seus dados, seu dinheiro, sua dignidade.
De acordo com a pesquisa conduzida pela NordPass, em média, um único usuário da internet tem cerca de 168 senhas para uso pessoal e 87 senhas para uso profissional. Gerenciar essa imensidão de senhas é simplesmente complicado demais para a maioria das pessoas, e os especialistas dizem que é até natural que as pessoas tenham a tendência de criar senhas fracas e fáceis de lembrar e, claro, reutilizar essas senhas em diversas contas.
Não precisamos só de segurança pessoal para proteção contra agressões perpetradas no mundo real, por bandidos e malfeitores armados com revólveres e objetos perfurocortantes; necessitamos de segurança cibernética, para proteger nossa vida patrimonial e pessoal, dispostas em ativos circulantes e em redes sociais, que não mais se restringem ao papel, mas ao acervo digital de dados — pegadas que deixamos todos os dias no mundo digital, sem sequer sabermos que estamos sendo vigiados, e que esses dados são vendidos e comercializados pelas Big Techs.
O problema de ter muitas contas é que não se pode utilizar a mesma senha, por questões de segurança, e a pessoa acaba esquecendo metade delas por desuso. O gerenciamento incorreto de senhas causa vulnerabilidade, representando riscos que vão desde a perda de acesso até danos financeiros ou roubo de identidade.
Revela a NordPass que quase metade das senhas mais comuns do mundo são feitas por combinações fáceis como “qweert”, “1Q2w3e4r5t” e “12345678”, bem como as palavras “eu te amo”, “futebol”, “princesa” e “sol”. As senhas comerciais mais comuns são “admin”, “newuser”, “welcom”, “newpass” e “temppass”.
Enquanto isso, os bandidos virtuais continuam enviando e-mails com recibos de NF, informações do SERASA, Correios, Receita Federal e Bancos, na tentativa de que a pessoa abra o link pela curiosidade, e o vírus roube seus dados e invada seu banco, levando suas economias.
A melhor opção é se cercar de toda a segurança: não usar senhas fáceis, não fazer download de links enviados pelo WhatsApp, nem abrir e-mails suspeitos, além de usar uma boa VPN e um firewall.
E as senhas seguem, a cada dia, mais burocratizadas, exigindo cada vez mais novas etapas de autenticação para promover uma pseudo segurança digital!
Em um mundo cada vez mais digital, nossas vidas estão entrelaçadas com senhas, códigos e autenticações que se acumulam sem parar. Mas, enquanto corremos para proteger nossos dados e nossa privacidade, a pergunta que fica é: até quando esse jogo de esconde-esconde vai continuar? A segurança digital é, sem dúvida, uma prioridade, mas o caminho para encontrar um equilíbrio entre praticidade e proteção ainda parece distante.
A verdadeira segurança não está apenas em senhas complexas e autenticações duplas, mas em uma conscientização coletiva de que nossa privacidade vale mais do que qualquer clique ou transação. À medida que avançamos para um futuro cada vez mais virtual, é essencial que também avancemos na busca por soluções mais eficazes e menos burocráticas. Afinal, a tecnologia deve ser uma aliada, não um obstáculo.
Então, a questão que fica não é apenas como gerenciar nossas senhas, mas como construir um ambiente digital mais seguro e acessível para todos, onde a proteção não seja um fardo, mas uma conquista compartilhada.
Adriana Barreto Lossio de Souza
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 27/08/2025