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Palmarí H. de Lucena é cronista, escritor e ativista social. Atuou em causas humanitárias no Brasil e no exterior e publica regularmente sobre cultura e memória.

O abandono da Mata do Altiplano do Cabo Branco

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publicado em 25/10/2025 ás 16h57

A Mata do Altiplano do Cabo Branco, situada na Avenida José Eduardo de Holanda, é uma das últimas áreas verdes significativas dentro da malha urbana de João Pessoa. Contudo, o que antes simbolizava equilíbrio ambiental e beleza natural transformou-se, nos últimos anos, em cenário de abandono e descaso público. Desde o deslizamento ocorrido em 2019, a Prefeitura não tomou providências efetivas para proteger o local. O que se vê hoje é uma mata degradada, com lixo acumulado, entulho, restos de poda, e uma cerca protetora quase inexistente — símbolo visível da indiferença do poder público.

A ausência de fiscalização converteu a área em ponto de risco e insegurança. O matagal denso serve de abrigo para usuários de drogas, cortadores de lenha e prostituição, comprometendo não apenas o meio ambiente, mas também a integridade dos moradores e transeuntes. As imagens revelam uma paisagem sufocada por vegetação descontrolada, fios elétricos cobertos por trepadeiras e vestígios de vandalismo que denunciam o colapso de qualquer política ambiental coerente.

É inaceitável que, em uma capital reconhecida pela qualidade de vida e pelas leis que limitam o avanço da especulação imobiliária sobre o litoral, uma área de preservação tão sensível permaneça esquecida. A Prefeitura, que deveria liderar ações de recuperação, reflorestamento e vigilância ambiental, optou pelo silêncio e pela omissão. O resultado é o avanço da degradação sobre uma das fronteiras ecológicas mais importantes do bairro.

A recuperação da Mata do Altiplano exige vontade política, planejamento técnico e participação comunitária. É urgente reinstalar a cerca de proteção, promover mutirões de limpeza, criar trilhas ecológicas monitoradas e garantir presença efetiva da Guarda Ambiental. A natureza, quando negligenciada, cobra caro — e a conta, mais cedo ou mais tarde, recai sobre toda a cidade.

Proteger a Mata do Altiplano é preservar a alma verde de João Pessoa. Não se trata de capricho ambientalista, mas de uma obrigação moral, jurídica e civilizatória. Cada árvore ali é um testemunho da nossa responsabilidade coletiva — e cada gesto de abandono, uma evidência de que a cidade ainda não compreendeu que cuidar da natureza é cuidar de si mesma.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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