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Palmarí H. de Lucena é cronista, escritor e ativista social. Atuou em causas humanitárias no Brasil e no exterior e publica regularmente sobre cultura e memória.

O limite do lulismo nas eleições estaduais da Paraíba

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publicado em 07/10/2025 ás 15h52

O apoio do presidente Lula continua sendo objeto de disputa entre candidatos paraibanos, mas os números e os fatos recentes indicam que seu peso eleitoral já não é o mesmo de décadas atrás. Em eleições cada vez mais fragmentadas, o prestígio presidencial nacional não tem se convertido automaticamente em votos nas urnas locais.

Segundo pesquisa do PoderData divulgada recentemente, 51% dos brasileiros desaprovam o governo federal, enquanto 44% o aprovam. Quando avaliado individualmente, o desempenho de Lula é visto como ruim ou péssimo por 44% dos eleitores, e apenas 23% o consideram ótimo ou bom. O dado revela um desgaste perceptível, mesmo em meio à estabilidade política e à ausência de grandes crises econômicas.

No Nordeste, região que historicamente deu sustentação eleitoral ao petismo, o quadro é mais favorável: 53% de aprovação contra 44% de desaprovação. Contudo, essa vantagem não deve ser interpretada como homogênea. O Nordeste é composto por realidades políticas e econômicas distintas — e a Paraíba tem se mostrado um exemplo claro de que a força de Lula encontra limites no plano estadual.

Em 2022, o candidato apoiado diretamente pelo presidente, Veneziano Vital do Rêgo, obteve apenas 11,7% dos votos no primeiro turno, um desempenho inferior à média estadual do partido. Já Pedro Cunha Lima, que representava um discurso de renovação, alcançou 26,5%, ultrapassando o lulista e se consolidando como alternativa fora da polarização nacionalizada entre bolsonarismo e petismo. No segundo turno, João Azevêdo — aliado indireto de Lula — acabou derrotado, mesmo sendo natural de João Pessoa e contando com a estrutura estadual.

Esses resultados mostram que, nos grandes centros paraibanos, a adesão automática ao nome de Lula não garante vantagem eleitoral. Em João Pessoa, por exemplo, o eleitorado dividiu-se de maneira quase equilibrada, refletindo um comportamento mais pragmático e menos ideológico. O voto deixou de ser expressão de lealdade partidária para se tornar instrumento de avaliação de desempenho e expectativa de gestão.

A transferência de votos de Lula para aliados locais foi poderosa no início dos anos 2000, quando o petismo representava esperança e ascensão social. Hoje, o contexto é outro: o país vive um ambiente político fragmentado, a base lulista se tornou mais heterogênea e parte do eleitorado urbano demonstra cansaço com as narrativas do passado.

O lulismo ainda mantém apelo simbólico — sobretudo no interior, entre eleitores de renda mais baixa e forte identificação emocional com o ex-presidente —, mas essa influência tem limites claros. Nas capitais e regiões metropolitanas, onde prevalecem eleitores mais informados e conectados às questões nacionais, o apoio de Lula pode até gerar resistência, funcionando como um marcador de polarização.

Na prática, o “selo Lula” continua valendo, mas seu valor de mercado político se depreciou. Em vez de definir resultados, tornou-se um ativo de comunicação — útil para sinalizar alinhamento ideológico, mas insuficiente para garantir maioria. A decisão final do eleitor depende cada vez mais de fatores locais: a imagem do candidato, sua capacidade administrativa e a coerência entre discurso e prática.

A Paraíba exemplifica essa transição. O eleitor aprendeu a separar o carisma nacional do desempenho regional, a gratidão do pragmatismo. Assim, o lulismo permanece relevante como referência simbólica, mas não mais como força eleitoral determinante. O Nordeste de 2025 já não é o mesmo de 2006 — e o eleitorado, antes fiel, agora faz contas, compara gestões e decide com a cabeça, não apenas com o coração.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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