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(para Paula Lavigne e Caetano Veloso)
O disco de Zeca Veloso, como se diz por aí sobre uma coisa boa e bonita, uma maneira de dizer – “é sua cara”, a cara dele – O sol parece ser sua inspiração. A segunda faixa “Boas Novas”, que dá nome ao álbum, é uma canção de uma profundidade que vem dele, do chão, a Terra, o céu e todas as coisas da natureza citadas nesta canção.
“Talvez Menor” a segunda faixa, traz as novidades do vento, os trovões – “quem sou eu se não tu”, uma frase forte que não nos remete ao amor, mas a junção de coisas pequenas, preciosas dessa canção curtinha. Tenho a sensação de que faltava esse disco para nos alegrar nesse Brasil despedaçado.
“Desenho da Animação” traz um sinal, traz a Itália, a Rádio Nacional e todas as tribos. A melodia parece feita para um filme. Um jovem artista preparado para os palcos, com a força da família Veloso. Zeca é um artista pronto.”Carolina, veja que aqui é bem melhor, a sombra do imperador, que o ouro enfeitiçou, não é tão maior que o nosso amor”
Abre o disco com “Salvador” numa reunião em família, que cantam juntos: o pai Caetano e os irmãos Moreno e Tom, numa composição que é toda Bahia. É uma canção amadurecida, e mostra que os quatro são heróis e orixás invisíveis. O vídeo saiu a semana passada e é coisa de cinema. Pai e filhos são guerreiros solares.
No meio do disco, “Máquina do Rio”, é bem diferente das outras canções apresentadas em `Boas Novas`. Essa canção não deixa ninguém sentado – “por paciência ou piedade”, algo bem bonito sobre o Rio de todos nós: “minhas Urcas, minhas Glórias”
O disco de Zeca não tem discurso panfletário. A sacada dele é maior. “Tua Voz” é quase uma canção de ninar, é profunda, como quem espera a felicidade da cor do sol, uma cor quase branca, em contraste com o doce ouvir de sua voz e a beleza se amplia muito mais.
“A Carta” é a mais bela, traz um esvaimento da dor que nos recolhe nos braços do amor – é a canção da manhã, essa ilusão do amor que ele chama de sacrifico, mas podemos sentir o espreitar através de seus versos tristes, que estão em todas as cartas e são ecos do espelho, onde os amores se assemelham a outros, muitos outros. Que canção bela!
Logo em seguida vem o samba “O Sal Desse Chão”, com o magnifico Xande de Pilares e haja sol, porta bandeira, amor e muito chão para o bem dos corpos que atravessam o caminho da vida sambando, sambando, sambando em todas as estações, porque o samba nunca é distante à compreensão do tempo do jovem cancioneiro Zeca Veloso.
O disco tem som em toda parte, cores e nomes: Robson Jorge e Lincoln Olivetti, Lucca Noacco, Kassin e o mestre Jaques Morelenbaum e seu amor, Dora Morelenbaum etc.
Fecha o disco o modão “O Sopro do Fole”, que a tia Maria Bethânia gravou em “Noturno” (2021) depois ele ampliou a canção que traz a brasilidade, os bois, os reis, um respiro gigante, ainda que comedido, do Zeca primogênito de Paulinha Lavigne e Caetano Veloso
Kapetadas
1 – Eu sou entusiasta desta grande e incontestável verdade: Zeca é foda.
2 – Aliás, quem é foda, não sente necessidade de provar.
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 16/12/2025