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O erro de quem empreende sem gestão
Ela sempre escutou que tinha bom gosto. “Você devia abrir sua própria loja!”, diziam as amigas. Foi o que fez. Escolheu um ponto no centro da cidade, montou a vitrine com peças que ela mesma achava lindas, decorou com capricho e esperou os clientes chegarem. Mas o movimento foi fraco, as vendas não decolaram, e as contas começaram a pesar. Foi quando ela passou a culpar a equipe: “Essas vendedoras não sabem vender!”
O que essa empresária, como tantas outras não percebeu é que empreender é mais do que ter intuição ou estilo. Exige estudo, estratégia e, acima de tudo, gestão. Ela nunca pesquisou o mercado, não fez análise de público, não calculou giro de estoque nem margem ideal. Comprava roupas pela emoção, não pela demanda. E esperava que os clientes gostassem do que ela gostava. Esqueceu que a loja era para o cliente, não para ela.
Além disso, não dominava técnicas de vendas nem formação de equipe. Exigia que as vendedoras soubessem tudo, preços, tamanhos, estoques, mas ela mesma não sabia responder o básico. Pior: atrapalhava as negociações no meio do atendimento, desautorizando as funcionárias com frases como “deixa que eu resolvo”. Com isso, criava insegurança na equipe e desconforto no cliente.
Começou então a exigir que as funcionárias fizessem cursos de vendas. O curioso? Ela mesma nunca fez nenhum. Queria que a equipe estudasse, mas não investia em seu próprio aprendizado. Cobrava excelência sem dar exemplo. Exigia performance sem oferecer base.
Reclamava também que não conseguia encontrar “vendedoras boas”. Mas contratava com pressa, pagava apenas um salário mínimo e ainda queria que a pessoa já chegasse com uma cartela de clientes pronta. Esperava um perfil de alto rendimento sem oferecer incentivos, plano de carreira ou ambiente minimamente estruturado.
O resultado? Rotatividade alta, clima de insatisfação, vendas estagnadas e reputação arranhada. A loja, que começou com sonho e entusiasmo, virou um campo de tensão. A empresária, frustrada, dizia que o mercado estava difícil sem perceber que boa parte do problema estava na própria forma de conduzir o negócio.
Esse tipo de situação se repete em várias cidades da Paraíba. Gente talentosa que acredita que paixão basta. Mas a paixão, sozinha, não sustenta a empresa. É preciso aprender sobre gestão de estoque, planejamento financeiro, precificação, marketing, atendimento, liderança e cultura organizacional.
Empreender é uma jornada de aprendizagem constante. Não basta abrir a porta e esperar. É preciso construir valor todos os dias, entender o comportamento do consumidor, escutar a equipe e assumir o papel de liderança com humildade e preparo.
No fim, a vitrine pode até chamar atenção. Mas é a gestão silenciosa, disciplinada e estratégica que mantém a loja de pé. E o bom gosto, por melhor que seja, não substitui o que só o conhecimento e a prática podem construir.
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Wolney Queiroz - 16/07/2025