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Bacharel, Especialista e Mestre em Administração (UFPB/UNP). Mestre Internacional em Comportamento Organizacional e Recursos Humanos (ISMT – Coimbra/Portugal). Especialista em Neurociências e Comportamento (PUC-RS) e em Inovação no Ensino Superior (UNIESP). Membro Imortal da Academia Paraibana de Ciência da Administração (Cadeira 28). Professor universitário (UNIESP), consultor empresarial, palestrante e escritor best-seller da Amazon. E-mail: [email protected]

Os Mitos que Travam a Boa Gestão

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publicado em 02/06/2025 ás 07h34

Os Mitos que Travam a Boa Gestão

No mundo da administração, nem tudo o que parece óbvio é verdadeiro. Existem ideias que circulam há décadas em empresas, salas de aula e rodas de conversa entre empreendedores como se fossem verdades absolutas. No entanto, muitos desses conceitos são apenas mitos que, longe de ajudar, acabam limitando o potencial de crescimento e inovação dos negócios. É hora de colocar luz sobre essas distorções e repensar o que realmente faz uma gestão ser eficaz.

Um dos mitos mais comuns é confundir estratégia com planejamento. Embora planejar seja importante, estratégia vai além: envolve olhar para o futuro, identificar oportunidades, antecipar tendências e encontrar caminhos únicos para gerar valor. Ter um plano não garante vantagem competitiva, essa vantagem nasce da capacidade de pensar diferente e agir com propósito. Planejamento sem visão estratégica é só uma lista de tarefas bem organizadas.

Outro equívoco recorrente é usar analogias militares para explicar o que é estratégia. A ideia de “vencer o inimigo” pode até parecer estimulante, mas empresas não estão em guerra. Negócios não se constroem com trincheiras, mas com pontes. Estratégia empresarial diz respeito a criar soluções, atender necessidades, inovar e prosperar, muitas vezes em ambientes colaborativos com antigos “concorrentes”. É um jogo de soma positiva, não de sobrevivência.

Há também quem acredite que o crescimento é o único objetivo que importa. Claro que expandir é bom, mas uma estratégia madura considera também a sustentabilidade, a reputação, o bem-estar da equipe e o valor gerado para a sociedade. Crescer sem direção pode levar a decisões apressadas, endividamento excessivo e até à perda de identidade da marca. Nem toda expansão é progresso, e nem todo lucro é sinal de saúde organizacional.

Muitas empresas ainda restringem a estratégia à alta cúpula. Essa visão verticalizada pode causar uma desconexão perigosa com a base. As melhores estratégias são construídas com participação ativa de quem está no chão da fábrica, no atendimento ao cliente, nos bastidores operacionais. Escutar esses profissionais traz perspectivas que o escritório executivo, por si só, não enxerga. Estratégia de verdade se faz com escuta, não só com planilhas.

Outro mito que persiste, especialmente em regiões onde o empreendedorismo cresce de forma intuitiva, como no Nordeste, é que administrar uma pequena empresa é complexo demais. A verdade é que gerir bem exige mais atitude do que diploma. Com foco, adaptabilidade e boas práticas acessíveis, pequenos negócios podem ter um desempenho surpreendente, o segredo está em agir com intenção, não em complicar a gestão com jargões ou processos excessivos.

Alguns ainda acreditam que só a experiência prática basta para empreender, desprezando a formação em administração. Mas conhecimento técnico pode ser um divisor de águas, sobretudo quando os desafios aumentam. Saber interpretar indicadores, gerir pessoas, lidar com crises ou estruturar processos são competências que não nascem com a prática, mas podem ser fortalecidas com o estudo. Experiência e teoria não são rivais, são aliadas.

Outro mito prejudicial é achar que liderança é dom. Embora algumas pessoas tenham mais facilidade, liderar é uma competência desenvolvível. Envolve empatia, escuta, tomada de decisão, gestão de conflitos e motivação de equipes. A boa notícia é que isso se aprende, se aprimora e se transforma com tempo, prática e humildade. Grandes líderes não nascem prontos: eles se constroem.

Inovação também costuma ser mal compreendida. Muitos pensam que só mudanças disruptivas merecem esse nome. Na verdade, pequenas melhorias nos processos, no atendimento ou no relacionamento com os clientes podem gerar grandes impactos. Inovar é, antes de tudo, uma mentalidade. E, quando aplicada no cotidiano da empresa, ela se transforma em vantagem competitiva real e duradoura.

Por fim, a crença na multitarefa como caminho para produtividade ainda impera em muitos escritórios. Mas a ciência mostra o contrário: fazer várias coisas ao mesmo tempo dispersa o foco, aumenta o erro e reduz a qualidade. Em vez de multitarefa, o segredo da produtividade está na priorização, na concentração e na gestão inteligente do tempo. Fazer bem-feito, uma coisa de cada vez, ainda é o melhor caminho.

Desmistificar essas ideias é importante para uma gestão eficaz. Quando líderes e empreendedores deixam de operar com base em frases feitas e passam a decidir com base em evidências, escuta e conhecimento, a administração deixa de ser um jogo de aparência e se torna, de fato, uma construção sólida de valor, propósito e resultados. E isso, sim, é boa gestão.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB