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“Não venha me perguntar, procure no Google.” A frase, dita por um chefe a um funcionário em início de carreira, pode parecer banal ou até prática em tempos de informação abundante. Mas por trás dela existe um problema grave de gestão, cultura e humanidade nas relações de trabalho. Não se trata apenas de uma questão de tempo, mas de presença, empatia e responsabilidade com quem está ali para aprender.
O caso é mais comum do que se imagina. Em escritórios, comércios, agências e setores públicos, há líderes que se escondem atrás da agenda cheia para evitar o papel que mais define sua função: formar pessoas. Esquecem que um ambiente de trabalho saudável e produtivo não nasce da pressão, mas do apoio. E que nenhuma busca no Google substitui a escuta ativa de quem realmente conhece o processo e pode orientar com propriedade.
Negar-se a responder uma dúvida é mais do que um gesto rude. É o sintoma de uma cultura onde o colaborador é visto como um custo, e não como alguém em desenvolvimento. Uma cultura que prefere o improviso à formação, e a cobrança ao diálogo. Quando um chefe se recusa a escutar, ele fecha uma porta de aprendizado e abre uma janela para o erro, para o retrabalho, para a frustração.
Em muitas empresas, especialmente nas de pequeno e médio porte, a cena se repete com frequência: alguém recém-chegado tenta aprender, se esforça, hesita, pergunta e recebe como resposta o desprezo disfarçado de eficiência. Como se o conhecimento fosse um privilégio inalcançável, e não um patrimônio que precisa ser compartilhado.
É evidente que estimular a autonomia é importante. Mas a autonomia não nasce da ausência de apoio. Ela é construída sobre bases sólidas de orientação, confiança e exemplo. Um líder que orienta hoje economiza tempo amanhã. Quem forma bem, cobra melhor. Quem explica com paciência, constrói segurança na equipe e ganha respeito genuíno.
Além disso, o despreparo no atendimento, o erro nos processos e a insegurança no time têm um custo alto para o negócio. Um funcionário mal orientado pode comprometer resultados, afastar clientes e gerar conflitos desnecessários. O que parecia “economia de tempo” vira desperdício de talento.
A boa liderança não está em saber tudo, mas em saber estar com. Ouvir, acolher, ensinar. Um chefe que não tem tempo para sua equipe talvez não devesse ocupar a posição que ocupa. Porque liderar é, acima de tudo, um ato de serviço. E um ambiente onde não se pode perguntar é um ambiente onde se pára de aprender e depois, de crescer.
Na era da inteligência artificial, o que mais falta ainda é a inteligência emocional. O Google pode até trazer respostas, mas é a orientação humana que forma consciências, fortalece vínculos e sustenta empresas que querem durar.
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 15/07/2025