João Pessoa, 22 de maio de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Bacharel, Especialista e Mestre em Administração (UFPB/UNP). Mestre Internacional em Comportamento Organizacional e Recursos Humanos (ISMT – Coimbra/Portugal). Especialista em Neurociências e Comportamento (PUC-RS) e em Inovação no Ensino Superior (UNIESP). Membro Imortal da Academia Paraibana de Ciência da Administração (Cadeira 28). Professor universitário (UNIESP), consultor empresarial, palestrante e escritor best-seller da Amazon. E-mail: [email protected]

O empreendedor que mora em você está acordado?

Comentários: 0
publicado em 22/05/2025 ás 07h38
atualizado em 22/05/2025 ás 07h43

Era uma vez um rapaz de Bayeux que vendia sanduíches na porta de casa. Aos poucos, passou a ouvir os clientes. Alguém pedia um molho diferente, outro queria uma versão vegetariana, uma vizinha sugeriu que ele abrisse uma página no Instagram. Ele ouvia tudo, testava, ajustava e voltava a vender. O resultado? Uma fila na calçada e o apelido carinhoso de “Rei do Pão com Tudo”. Não era apenas o sabor. Era o espírito. A mentalidade empreendedora que transforma um lanche em negócio e um improviso em oportunidade.

Empreender não começa com um CNPJ. Começa com uma pergunta: “o que eu posso melhorar aqui?” Essa pergunta, simples e poderosa, está na base de toda história empreendedora. E ela não exige muito além de curiosidade, escuta e iniciativa. O empreendedor de verdade não espera o cenário ideal. Ele age, aprende, corrige e avança. No fundo, ele é menos herói e mais aprendiz persistente. E essa é uma boa notícia para quem acha que ainda não tem o “dom”.

Na Paraíba, vemos isso todos os dias. Gente que começa vendendo bolo no WhatsApp e vira referência em confeitaria. Jovens que transformam o celular em máquina de vendas. A aposentada que aprendeu a fazer crochê em tutoriais e hoje envia para outros estados. A mentalidade empreendedora não está no que você vende, mas em como você enxerga o que faz. É uma lente. Um modo de viver. E está mais acessível do que você imagina.

Uma das chaves está em desenvolver o olhar para problemas. Empreendedores não fogem de problemas. Eles caçam. Sabem que onde há um incômodo, há também um desejo. E onde há um desejo, há espaço para uma solução. O jovem que cansou de esperar ônibus lotado criou um aplicativo de caronas entre bairros. A mãe que não achava roupa confortável para bebês criou sua própria marca. Esses movimentos nascem de um impulso comum: “isso podia ser diferente”.

Mas para isso é preciso treino. Como qualquer habilidade, empreender exige prática. E a melhor forma de praticar é começar pequeno, testar hipóteses, conversar com pessoas e prestar atenção nos sinais. Nenhuma ideia nasce pronta. Nenhum negócio cresce só com sorte. O diferencial está em aprender rápido, errar barato e ajustar o rumo. É como plantar uma semente todo dia. Algumas não vingam, mas outras florescem de formas inesperadas.

Outra dica valiosa é aprender a ouvir. O cliente é o maior consultor que você pode ter. Ele não precisa dizer tudo com palavras. Às vezes, basta observar: o que ele pergunta, onde hesita, o que posta, o que compartilha. O empreendedor atento enxerga nesses sinais um mapa para inovar. Não se trata de seguir modismos, mas de interpretar desejos reais. Quem escuta com humildade e age com coragem, sai na frente.

E por falar em coragem, ela não é ausência de medo. É decisão de seguir mesmo com medo. Muita gente desiste antes de tentar. Ouvem vozes que dizem que não vai dar certo, que já tem gente demais fazendo isso, que falta dinheiro, que falta apoio. O empreendedor que mora em você precisa de uma chance. E muitas vezes, ele só precisa de um empurrão para sair do papel. Um curso. Um parceiro. Uma conversa. Um sábado de manhã com olhar atento na padaria do bairro.

A boa notícia é que nunca foi tão possível empreender com pouco. As ferramentas estão na palma da mão. Redes sociais, meios de pagamento, aplicativos gratuitos. O que antes exigia uma loja física, hoje pode começar com um perfil no Instagram. O que antes pedia capital, hoje começa com criatividade. A lógica mudou. E quem entende isso, larga na frente. Não precisa esperar ter tudo. Precisa começar com o que tem.

Mais do que vender um produto, o empreendedor entrega uma visão. Ele mostra que é possível viver de algo que faz sentido. Que dá para unir talento e propósito. Que é possível transformar uma cidade a partir de um pequeno negócio. Que é viável gerar renda e ainda fazer diferença na comunidade. O empreendedorismo é, nesse sentido, um movimento social. Uma maneira de mudar o mundo de dentro para fora.

E aí, o empreendedor que mora em você está acordado? Ou ainda está esperando permissão? A verdade é que você não precisa de aval para começar. Precisa de decisão. Olhe ao redor. Escute com atenção. Teste com coragem. Ajuste com humildade. E comece. Porque o próximo grande negócio da Paraíba pode estar onde menos se espera: no olhar inquieto de quem finalmente decidiu fazer.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB