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Bacharel, Especialista e Mestre em Administração (UFPB/UNP). Mestre Internacional em Comportamento Organizacional e Recursos Humanos (ISMT – Coimbra/Portugal). Especialista em Neurociências e Comportamento (PUC-RS) e em Inovação no Ensino Superior (UNIESP). Membro Imortal da Academia Paraibana de Ciência da Administração (Cadeira 28). Professor universitário (UNIESP), consultor empresarial, palestrante e escritor best-seller da Amazon. E-mail: [email protected]

O que te move quando ninguém está olhando?

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publicado em 11/05/2025 ás 10h06

Era fim de expediente em uma pequena empresa de instalações elétricas em João Pessoa. O encarregado já havia liberado todos. Mas Joana, técnica recém-contratada, permaneceu por mais alguns minutos finalizando o ajuste de uma central fotovoltaica. Ninguém pediu. Ninguém estava olhando. Ninguém saberia. Mas ela queria que ficasse bom. O bastante para se orgulhar. O bastante para honrar sua própria consciência.

O gesto de Joana é um retrato sutil, mas poderoso, da motivação intrínseca que não depende de aplausos, bônus ou vigilância. Ela nasce do prazer de realizar bem uma tarefa, da conexão com um valor pessoal ou do desejo genuíno de contribuir. Segundo os pesquisadores Edward Deci e Richard Ryan (1985), essa força interior é alimentada por três elementos fundamentais: autonomia, competência e propósito.

Motivar pessoas não é sobre empurrá-las com metas. É sobre acender nelas aquilo que já existe. Empresas que compreendem essa lógica tendem a ir além da produtividade e constroem culturas de verdade, onde o trabalho é expressão e não apenas obrigação. É o que propõem os autores Sisodia, Wolfe e Sheth (2008), ao defenderem a gestão com alma humanista: aquela que reconhece que cada colaborador carrega um motor invisível que não se vê no crachá, mas que move montanhas em silêncio.

Em uma fábrica de plásticos em Cabedelo, por exemplo, uma operadora da linha de produção sugeriu mudanças simples no processo que reduziram em vinte por cento o desperdício de matéria-prima. Não havia um programa de sugestões em vigor. Nem bônus prometido. Quando questionada sobre o motivo da iniciativa, ela apenas respondeu: “Porque eu não gosto de ver nada sendo jogado fora.” Foi ali que se revelou o valor que a movia: o respeito.

Muitos dos gestos mais transformadores no ambiente de trabalho não vêm de ordens, mas de escolhas espontâneas. E escolhas como essa só acontecem em ambientes que acolhem a autenticidade. Onde há espaço para ser quem se é. Onde se pode agir com consciência, mesmo sem plateia. Porque o trabalho feito com sentido não precisa de holofotes. Ele brilha por si.

Liderar, então, não é apenas direcionar tarefas. É criar um ecossistema onde cada pessoa possa se conectar com o que tem de mais genuíno. É dar espaço para que a motivação intrínseca floresça, sem sufocá-la com controles excessivos ou metas desumanas. Um líder atento não busca apenas resultados, ele busca compreender o que desperta o melhor em cada um.

Esse processo começa por perguntas que raramente são feitas no dia a dia corporativo. O que seus colaboradores fariam se ninguém estivesse olhando? Seu ambiente estimula autenticidade ou conformismo? Suas metas têm alma ou são apenas números em uma planilha?

Essas questões abrem portas para uma nova forma de gestão. Uma gestão que não ignora o invisível. Que percebe nos pequenos gestos sinais de pertencimento, zelo e paixão. Que entende que o engajamento verdadeiro não se impõe, mas se cultiva com escuta, confiança e espaço para que cada um coloque sua marca no que faz.

No fim das contas, não é sobre entregar mais, mas sobre entregar com verdade. Quando o trabalho encontra propósito, ele deixa de ser peso e se transforma em expressão. A motivação deixa de ser buscada e passa a ser despertada porque já está ali, esperando um ambiente fértil para crescer.

E você?  O que te move quando ninguém está olhando?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB