João Pessoa, 03 de outubro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Eu achava ótimo. Cada um dos filhos de Tio Cirilo que casava era uma festa singular, comida farta, gente simples, hospitaleira. Éramos recebidos com o maior amor do mundo.
Não lembro a distância. Morávamos no Sítio Saco, Município de Uiraúna. Casas velhas pertencia a Antenor Navarro, o seu nome das antigas.
No meio do caminho, o Rio do peixe. Das suas curvas sinuosas, tínhamos que cruzar duas delas. Uma, em Várzea de Cacimba; a outra, na entrada de Casas Velhas. Mãe morria de medo. Eu era curiosidade pura. Um balcão de areia branca, poças d’água gigantes, um bicho grandão, bem maior do que o meu Riacho Pé de Serra.
Saíamos de madrugada, a pé. Mãe, Flaviana, Bia, Dedé… Mãe levava presentes simplesinhos, carregados de ternura. Para quem, como nós, morava em um local isolado do universo, a viagem era uma farra só.
As árvores eram novidade, afinal, arbusto que nascera mamando a água fria do Rio do peixe era verde além da conta, diferente dos velames e marmeleiros, o meu habitat, todos de cu seco e bem magrelos.
Naquele dia, aportamos cedo. Tio Cirilo chegara da roça. Educadíssimo. Dona Chica, sua esposa, que simpatia! Cezinha, Lourdes, Antônio, Loura e mais, bem mais.
Chegávamos três dias antes. Mãe nascera ali, estava no meio dos seus, muita gente para visitar, uma disputa danada, não dita, mas velada, onde deveríamos nos hospedar. Tia Honorina, tio Joãozinho, tio Cirilo? Ai meu Deus, a família era enorme…
O outro dia era dia de visitas. Liou, Burrega, o pessoal de Nambi, os Fortunatos e outros mais, porque minha mãe não esquecia seus amores. Em cada casa, uma festança de arromba: café, leite, ovos estrelados, pão-de-ló, doces, bolachas, cuscuz, munguzá, milho assado, chorrisco…Quem aguentava tudo isso?
Que algazarra, que lembranças! Só tinha um coisa ruim para a gula do menino. À noite, eu não dormia direito. Acanalhado e tirando a barriga da miséria, passava a noite golfando a mais pura gordura de porco ou de galinha.
Pois é. O tempo não vence Casas Velhas. Olhem como a casa de tio Cirilo está preservada. Sim. Os moradores desse lindo povoado sempre foram zelosos e especiais. Que bom que eu tenho uma raiz de lá.
@professorchicoleite
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NA CÂMARA - 02/10/2025