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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Cachorrão, Dudu bananinha e o gol de Richarlison

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publicado em 02/12/2022 às 07h00
atualizado em 01/12/2022 às 12h38

Quando Cachorrão chegou ali achou tudo muito esquisito. O céu, as nuvens, a lua e as estrelas eram verdes e amarelas. De início, Cachorrão espantou-se, mas logo caiu na real e, assim, consciente da sua missão, sentiu uma coceira no rabo de tanta alegria.

Puta que o pariu! Pensou. Finalmente, as Forças Armadas agiram!

E empunhou sua bandeira patriota. Não tinha como ele se destacar naquele céu grandão tudo da mesma cor. Lembrou-se, então, da fita preta que guardara no dia anterior para diferenciá-lo dos comunistas disfarçados de torcedores da seleção brasileira. Por cima da expressão “Ordem e progresso” pôs:  SOS FORÇAS ARMADAS!

A bandeira brilhava mais do que o velho da Havan. Empertigado, Cachorrão pôs-se em uma marcha que aprendera nos tempos da caserna. Depois de vagar sem rumo,  entrou numa fila enorme que mais parecia uma lagarta  de fogo, sem pé nem cabeça.  Demorou-se por lá. Dias. Deu tempo de fazer  por mais de 13 vezes o número 2 em um banqueiro químico, como aqueles postos nas calçadas dos quartéis.

A fila não andava por isso o cocô que fizera (e o que não fizera também) começava a desonerar.  Inquietou-se.  Ligou o celular verde amarelo e deparou-se com uma postagem sobre Dudu bananinha que estaria no Catar organizando a revolução. Que orgulho! Tentou captar o som do universo, cuspiu no chão, fez beicinho, contou até 22 e nada de nada aconteceu.

Mas, Cachorrorrão era resistente e se aquilo não era sonho, ele não sabia o que poderia ser. O céu, talvez. O Poder moderador da Republica celestial haveria de agir. Era questão de horas, dias, meses, anos…

Mudou de fila. Cachorrão era paciente, mas escorregou numa casaca de banana (No céu também tem casca de banana) e foi conduzido sem querer para o lado da perdição.

Uma anarquia, um lugar cheio de gente fedendo a churrasco e farofa, uma munganga de pobre deslavada, gente de outro mundo, também vestida de verde e amarelo. Uma mocinha, de biquini amarelinho, saltitava pra lá e pra cá. Cachorrão cobriu os olhos, deixando apenas uma pequena fresta, entre os dedos mindinho e anelar, de modo a testemunhar a sem-vergonhice daquela gente.

De repente, o céu estremeceu:

Goooooooool, goooooooooool, gooooooooooooool, Richarlison!

Cachorrão assustou-se. Um comunista, dos mais desgraçados, irrompeu vindo da banda do purgatório com um trompete verde e amarelo no bocão:

Olê, olê, olê, olá…lá, lá, la, lá…

Cachorrão engulhou, seus olhos esbugalhados caíram lúgubres sobre o infinito. Aquilo era um pesadelo. Quis voltar para os portões dos quartéis, mas o biquini de bolinhas amarelinhas da depravada não saia da sua mente, nem a voz maviosa do trompetista filho de uma puta:

Olê, olê, olê, olá…lá, lá, la, lá…

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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