João Pessoa, 18 de maio de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Na mais recente edição do podcast ADM in Cast, a entrevistadora Maria Rita Verneque conduziu uma conversa memorável com um dos nomes mais respeitados da administração brasileira: o professor Idalberto Chiavenato. Referência absoluta quando se fala em gestão de pessoas, autor de dezenas de livros que moldaram gerações de profissionais, ele compartilhou reflexões valiosas sobre sua trajetória, as transformações no mundo do trabalho e o papel cada vez mais humano que se espera das empresas no século vinte e um.
A história de Chiavenato com a administração começou por caminhos improváveis. Sua primeira vocação era a música. Sonhava ser regente de orquestra, e chegou a se dedicar intensamente ao estudo da arte. Quando percebeu que o Brasil da época não oferecia formação estruturada para esse ofício, decidiu migrar para a pedagogia e depois para a psicologia da educação. Essa base acadêmica o levou naturalmente a ingressar no universo corporativo, atuando com recrutamento, seleção e treinamento. Foi assim, com olhar sensível e formação sólida, que começou a escrever sua história na gestão de pessoas.
Com mais de cinquenta livros publicados, Chiavenato é um dos autores mais citados na área de administração. Seu primeiro livro tratava da gestão de recursos humanos, refletindo o espírito da época em que o trabalhador era visto mais como recurso do que como ser humano integral. Com o passar dos anos, ele próprio promoveu uma revisão profunda desse conceito, adotando termos como gestão de pessoas e, mais recentemente, gestão do talento humano. A mudança de linguagem não é apenas semântica. Ela expressa uma transformação na forma como o trabalho, o talento e as relações humanas passaram a ser entendidos dentro das organizações.
Durante a entrevista, ele destacou que muitas empresas têm buscado uma abordagem mais humanizada. O lucro continua sendo importante, mas já não é mais o único norte. Cresce o entendimento de que o bem-estar dos colaboradores é parte essencial da estratégia e da inteligência competitiva de uma organização. Pessoas saudáveis emocionalmente, respeitadas em sua individualidade e estimuladas em seu potencial contribuem com mais criatividade, mais engajamento e mais soluções reais para os desafios do negócio.
Chiavenato também falou sobre tecnologia e inteligência artificial, temas inevitáveis quando se trata do futuro da administração. Ele reconhece o impacto transformador dessas ferramentas, mas reforça que a tecnologia só é verdadeiramente útil quando está a serviço do ser humano. Sem profissionais capacitados para interpretar dados, adaptar sistemas e tomar decisões com base em critérios éticos e estratégicos, a tecnologia corre o risco de se tornar mais um modismo do que uma solução.
Na conversa, houve espaço ainda para discutir as práticas de ESG, a sigla que reúne os compromissos ambientais, sociais e de governança que cada vez mais orientam o mundo corporativo. Para Chiavenato, empresas modernas precisam ir além do discurso. Devem assumir um papel ativo na construção de um ambiente mais justo e sustentável, respondendo não apenas aos interesses dos acionistas, mas aos anseios da sociedade como um todo.
Ao falar sobre planejamento estratégico, ele relembrou que, antigamente, empresas projetavam planos de vinte ou trinta anos. Hoje, esse horizonte encurtou drasticamente. A recomendação do mestre é adotar um planejamento mais adaptativo, com capacidade de resposta rápida às mudanças e com foco em aprendizado contínuo. Em um mundo em constante transformação, quem não se adapta, desaparece.
O reconhecimento à sua trajetória veio recentemente com a entrega do título de Administrador Emérito de dois mil e vinte e quatro, concedido pelo CRA São Paulo. Em tom emocionado, Chiavenato agradeceu à esposa, que sempre o incentivou, e também ao neto, Lucas Chiavenato, que hoje lidera o Instituto que leva o nome da família e continua disseminando conhecimento pelo país.
A entrevista está disponível no canal do CRA-SP no YouTube e é uma aula viva para quem se interessa por gestão, liderança e futuro do trabalho. Chiavenato continua sendo mais que uma referência teórica. Ele é um exemplo de coerência, atualização constante e compromisso com o desenvolvimento humano dentro das organizações. Para a Paraíba e para o Brasil, seu legado segue vivo, necessário e inspirador.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
BOLETIM DA REDAÇÃO - 16/05/2025