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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O céu estrelado de Van Gogh

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publicado em 20/12/2025 ás 07h00
atualizado em 20/12/2025 ás 08h14

Estou novamente atravessando o rastro de Lupicínio Rodrigues, sofredor do amor, das belas canções, promessas cheias de riscos, de que o sol  realmente não poder viver perto da lua.

Já passei daquela busca, que Proust não me avisasse que sem a sequência perdida,  acontece uma estranha sensação de ser fez feliz e infeliz. Puxa vida! Feliz Ano Velho de novo.

Sei bem quando  e onde começou, nem quando terminará, mas é fácil saber que estou longe da beira da estrada do Erasmo. Não, meus lábios não racham, a garganta não seca, mas o calor me abate.

Meu deserto é de silêncio.

O coração cala, a voz se esconde, os olhos não brilham mais e eu fico cego de tanto vê-la e não tê-la, o que é uma coisa bela.

Ligo o rádio e a sintonizo  a  monotonia das cores de Frida Kahlo, cores de Almodóvar, cores de Adriana Calcanhoto.

Fervilha, mas não vejo muito bem a barbárie que não enxergo, o inferno que não sublimo.

Eu sigo andando carregando o Último Desejo de Noel Rosa e que o deserto termine antes de 2025, e eu possa sentir novamente que o silêncio é a pior resposta, porque nas coisas do amor, quem cala, consente.

Ah! Minha mãe, das manias de ser limpa demais, Lustre o meu mundo Clarice, ajuda-me a ultrapassar águas passadas.

Meu pai, por que eu ando de um lado para outro e não sou o outro, se tudo o que eu sinto é o luto, sem choro, nem vela.

O que não me chega, um rio que não deságua em mim, se saio rindo do lindo lago do amor reposado na pedra sobre pedra.

Em 2026 reconstruirei minha a paz  e não vou ver suplantar as barreiras, mas  já escuto alguém dizer – lá vai o velho Kubitschek

Arrastando meus tênis e o que encontrar pela frente, matando a sede na saliva e lavando os olhos que então poderão ver, no último instante, a única coisa boa do deserto, o céu estrelado  de Van Gogh.

Kapetadas

1 – Nesse mundo onde todos são poetas, não há poesia — há um gigantesco encalhe de livros.

2 – Um dia essas empresas visionárias, que odeiam gente, vão criar produtos feitos por ninguém, pra ninguém.

3 – Ilustração – A Noite Estrelada (1889), óleo sobre tela, 73 x 92 cm. Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMa)

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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