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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Mulheres inventivas

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publicado em 01/06/2025 ás 07h00
atualizado em 31/05/2025 ás 21h46

Claro que não existem mulheres invisíveis, mas, elas e por elas, dão nó em pingo d´água. A expressão “mulheres invisíveis”, veio da secretária de Desenvolvimento Social, da prefeitura de João Pessoa, Norma Gouveia, uma mulher visível e inteligente. Mas existem sim, mulheres invisíveis.

Norma se uniu a presidente da Aemp, Nalva Coutinho, e realizaram uma ação com vinte catadoras de material reciclável do ´Movimento da Economia Solidária´ de João Pessoa. Uma janela virada para o mundo. Foi bonito de ver. Uma sinapse a olho nu.

Mulheres de faixas etárias diferentes participaram do projeto, que incluiu fazer os cabelos, as unhas dos pés e das mãos, almoçarem na sede da Aemp, centro de João Pessoa e receberam kits de higiene pessoal, teve sorteios e bolo.

Se não há lugares para essas mulheres conhecidas como invisíveis, que trabalham para ajudar a família limpando o meio ambiente, as ruas, de manhã cedinho, elas se encontram e se encantam e deixam de ser invisíveis, nem que seja na hora do almoço.

Perto de nós essas mulheres são de uma importância solar, elas driblam as grandes distâncias, das eras que em que não existia lixo reciclável nas ruas e as pessoas não jogavam tantas latas e plásticos e pets nas avenidas. As catadoras paraibanas vêm de longe e elas nem precisam saber do lixo ocidental.

Elas nos livram e nem reparamos. Há sempre um saveiro pronto para levá-las entre as palavras de ordem e de pôr ordem. Elas são capazes e não precisam de mídia ou porta-voz.

Antes do almoço na Aemp, numa pequena solenidade, uma delas pediu pra falar e parecia uma tempestade de realidades, sem se repetir, que elas têm a força e entre outras tantas a descobrir uma pela outra e qualquer reflexo ou eco vem delas, do que elas constroem. Eu fiquei besta. Trabalhadoras de boas intenções.

Entrevistei algumas, outras. e vi que elas são superiores, driblam com a cara e coragem e seguem afastando o vazio de si mesmas, quando dizem que têm filhos e casa para dar conta, mas não abrem mão do trabalho.

Nas expressões não existem refúgios, nem rosas e o dia das mães, dos namorados e aniversários são ligeiros. Nem toda mulher gosta de rosas. Elas limpam a cidade e limpam  a nossa barra, enquanto vivemos entregues à ressaca da destruição das cidades e do meio ambiente.

Não somos nada e somos chatos, orgulhosos, bem visíveis, porque cada um cuida de seu perfil, sua festa, seu look, seu click, sua cartase, seu ego. Elas são descobertas, expressões e experimentos e são inventivas, nós que não é que morremos sozinhos.

Cosendo os dias entre si, elas são mais que catadoras de material reciclável, são colhedoras à superfície de uma vida dura, sem bobagens, beicinhos, acintes tiktok de quem não está a olhar para elas, confessadamente visíveis.

Mulheres tocando a vida diante dos longínquos, avistadas umas pelas outras, mas tão certamente sobreviventes. Eu fiquei feliz em poder participar de um dia com elas, a quem dedico esse texto, do que posso dizer da vida, por elas existirem

Kapetadas

1 – O Brasil não é um bebê reborn: os guris oscilam e parecem real, mas de perto, percebe-se que não respiram nem comem.

2 – Por distração, ou bobeira mandam o manual da geladeira em PDF para o Jabuti e ganham o primeiro lugar.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB