João Pessoa, 25 de outubro de 2025 | --ºC / --ºC
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(dedicado a Francis)
Só temos um lustre que fica na varanda – eu achei há muitos anos no lixo, na calçada de Nalige, uma mulher que eu gostava, que partiu, não me lembro quando, porque muitas já se transformaram em outras e estão no azul, bem longe desse mundo infernal.
Na reorganização da mobília, o petisqueiro de minha mãe e não faço ideia como ele veio do sertão para João Pessoa, saiu do quarto de hóspede (aliás não existe coisa mais estranha do que um hóspede na casa gente, por mais que ele seja parente ou aderente). Então, o petisqueiro veio para sala, coisa da dona casa.
Minha mãe nunca me chamou de Kubi, sempre de Kubitschek e nunca dei por perdido o nome dela, o seu rosto circunda-me, como o som da chuva nas noites sertanejas
Eu não quero ser o último sobrevivente de uma gargalhada, mas também não quero me alongar, nem me apegar em nada.
Sou igual a atriz Fernanda Montenegro, morro de medo das ruinas. Depois eu explico.
O petisqueiro é lindo – onde minha mãe guardava as xícaras, as colheres de sopa e os pratos onde almoçávamos. Na parte de baixo, amostras grates que meu padim Irapuan dava à família.
Nada me foge a memória.
O mais singelo da vida está na lembrança deles, pai e mãe, que partem antes de nós, mas já estou velho e tenho o ilimitado não regresso de muitas coisas que se perderam no caminho.
Eu já não sei mais escrever, e se e me atrevo a olhar para o petisqueiro, a olhar e dizer, que ele mudou de lugar, já é motivo para uns garranchos.
Lá longe vejo o rosto da minha mãe e seu cheiro, que exala agradavelmente a necessidade de nunca esquecer de lembrar, que seu petisqueiro mora comigo.
Um perfume, o amor de um rosto desaparecido, mas que adorava tanto.
Kapetadas
1 – Quero ver a Mona Lisa sorrir no Louvre quando levarem o quadro ao lado.
2 – Em cima do petisqueiro está a sopeira que Tereza Citatdino deixou para mim. Muita saudade dela.
3 – Meus dedos coçam pra escrever o que eu não devo.
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MOBILIDADE - 24/10/2025