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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Nova versão da fábula Gato-Sapato

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publicado em 04/11/2025 ás 07h00
atualizado em 04/11/2025 ás 07h57

Nunca mais, disse o gato para o sapato. Se eu fosse o advogado do diabo, mandava ver. Nunca mais, nunca mais irás me interromper. Nunca mais. Eu não sou cachorro, não.

Conseguiu fazer de mim gato-sapato, mas eu deixei, minha culpa, minha mínima culpa, mas vai chover em minha roça e vou plantar flores, as flores que eu via em você, seu mocassim tratorado.

Ao comentar uma passagem cruel da civilização dos animais, o gato que já havia lido (“A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, publicado em agosto de 1945,  que narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos) chegou pertinho do céu e não viu o sapato, entre as sandálias da humildade, mas, por agora, a nuvem escura que ocupa o sapato, o peito não sufoca o miado do gato. Não mexe comigo que eu não ando sol, ainda corro para ver a lua de Villa-Lobos

As leis da natureza não chegam para acalmar todos as tragédias do reino animal e o pior será chorar no final num samba acabado, por  não entender o que o gato escreve, a quem imaginava seguir o Homem da Cruz e nenhum poder pertence a uma só sapato.

Teus pés apedrejam e beijam simuladamente, meu caro sapato, mas você não conhece o Augusto, nem os anjos, disse o gato,

As costuras de teus olhos são mais tristes que os ateus, até quando éramos habitantes do mesmo zoo, mas eu fui embora e você ficou para pagar o pato.

O teu pacto, disse o gato, se é que me diz respeito, chegou visível, descarado, insípido a escoar entre portas ou refazer o caminho de volta

O brilho do punhal luminoso ainda bruto que nos chegou a prender um ao outro, gato-sapato, se desfez antes do fim. Amém

Deve ser por causa do sangue de barata que corre em tuas veias abertas, que nunca enxergou a intelectualidade do gato, que nunca conseguisse entender, velho sapato furado.

Tal como na poesia de Drummond, as pedras do caminho, e tu tens de concordar, muito embora nunca tenhamos entre nós esboçado mais que um par de compaixões a propósito da poesia. Você nunca leu Manuel Bandeira,  meu caro par de sapatos, não sabe onde está a ´Estrela da Manhã´.

É uma pena que não possas ver o teu próprio rosto no mármore, na morte, jogado na baixa do sapateiro. Sim, você morreu pra mim, disse o gato ronronando muito alto.

Não me pertubas mais, e de longe te vejo iludindo outros pés, ao abandono de si mesmo.

Nem gato, nem sapato, carcará, pega, mata e come!

Kapetadas

1 – Minha namorada e  eu escolhemos nossa fantasia de Halloween: fomos de Relacionamento Saudável. – Halloween? – Não, Hallowout.

2 – Pisa onde eu piso que tu não escorrega, scapin da 25 de março.

3 – Som na Caixa – “Assassinaram o camarão”, Os Originais do Samba.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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