João Pessoa, 04 de novembro de 2025 |   --ºC / --ºC   
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Nunca mais, disse o gato para o sapato. Se eu fosse o advogado do diabo, mandava ver. Nunca mais, nunca mais irás me interromper. Nunca mais. Eu não sou cachorro, não.
Conseguiu fazer de mim gato-sapato, mas eu deixei, minha culpa, minha mínima culpa, mas vai chover em minha roça e vou plantar flores, as flores que eu via em você, seu mocassim tratorado.
Ao comentar uma passagem cruel da civilização dos animais, o gato que já havia lido (“A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, publicado em agosto de 1945, que narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos) chegou pertinho do céu e não viu o sapato, entre as sandálias da humildade, mas, por agora, a nuvem escura que ocupa o sapato, o peito não sufoca o miado do gato. Não mexe comigo que eu não ando sol, ainda corro para ver a lua de Villa-Lobos
As leis da natureza não chegam para acalmar todos as tragédias do reino animal e o pior será chorar no final num samba acabado, por não entender o que o gato escreve, a quem imaginava seguir o Homem da Cruz e nenhum poder pertence a uma só sapato.
Teus pés apedrejam e beijam simuladamente, meu caro sapato, mas você não conhece o Augusto, nem os anjos, disse o gato,
As costuras de teus olhos são mais tristes que os ateus, até quando éramos habitantes do mesmo zoo, mas eu fui embora e você ficou para pagar o pato.
O teu pacto, disse o gato, se é que me diz respeito, chegou visível, descarado, insípido a escoar entre portas ou refazer o caminho de volta
O brilho do punhal luminoso ainda bruto que nos chegou a prender um ao outro, gato-sapato, se desfez antes do fim. Amém
Deve ser por causa do sangue de barata que corre em tuas veias abertas, que nunca enxergou a intelectualidade do gato, que nunca conseguisse entender, velho sapato furado.
Tal como na poesia de Drummond, as pedras do caminho, e tu tens de concordar, muito embora nunca tenhamos entre nós esboçado mais que um par de compaixões a propósito da poesia. Você nunca leu Manuel Bandeira, meu caro par de sapatos, não sabe onde está a ´Estrela da Manhã´.
É uma pena que não possas ver o teu próprio rosto no mármore, na morte, jogado na baixa do sapateiro. Sim, você morreu pra mim, disse o gato ronronando muito alto.
Não me pertubas mais, e de longe te vejo iludindo outros pés, ao abandono de si mesmo.
Nem gato, nem sapato, carcará, pega, mata e come!
 
Kapetadas
1 – Minha namorada e eu escolhemos nossa fantasia de Halloween: fomos de Relacionamento Saudável. – Halloween? – Não, Hallowout.
2 – Pisa onde eu piso que tu não escorrega, scapin da 25 de março.
3 – Som na Caixa – “Assassinaram o camarão”, Os Originais do Samba.
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 "INCLUSÃO DIGITAL" - 03/11/2025