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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Ela é Antônia

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publicado em 07/12/2025 ás 07h38
atualizado em 07/12/2025 ás 07h47

A escritora Antonia Claudino trouxe a linguagem do sertão, universal, pedra sobre pedra, um açude sangrando, para seu primeiro livro de crônicas que ousa já no título “Eu Sou Antonia”.

O lançamento aconteceu na celebração dos dez anos do museu do escultor Jurandir Maciel, que inaugurou naquela tarde, uma escultura da primeira mulher, ela, Antonia Claudino, a figurar no acervo do museu. Não é pra qualquer um, digo, uma

O tempo é a tarefa que a escritora apresenta no saber colher e acolher. Não é só um tom a dar nessa dimensão, nesse fio que não se perde ou enreda de tal modo que se registra em escritos. Os temas são tirados da vida da gente. Impressionantes.

Seu primeiro livro são suportes à mão, e ainda alguns arrancados da imaginação de um horizonte nunca adiado. Ela nasceu num sítio direto para o mundo, sua linguagem afronta a mesmice dos textos publicados por outras escritoras. Ela sabe escrever.

Os textos falam do tempo e traz o sol, o mais quente, as pancadas da vida entre os fios e meadas, de uma sertaneja que nasceu para brilhar. Ela estampa ao se comunicar com as rotas necessárias da vida.

Não é autobiográfico, mas seus textos se identificam com as agonias, a falta de respeito, o leva e traz, da religião ao cotidiano, as feridas e a cura das dores.

São signos, imagens, cenas e experiências de uma mulher que se transforma todos os dias. Ela é Antônia. Li esses textos e muitos outros publicados na Página de Opinião do MaisPB -e, ao me deparar com uma realidade de tal modo que parecem cartas escritas para destinatários diversos.

Mais do que uma escrita fluente, os textos de Antônia parecem conduzir a todos os rituais em que os temas surgem como se desfeitos pelo próprio destino. Está tudo aí para quem quiser ler. É difícil hoje em dia encontrar temas de um quotidiano que não abandona o sonho.

As histórias contadas por ela podem não oferecer grande consolo, e é natural que alguns poetas e escritores mandem recados tentando libertar-se da obrigação de sermos caretas, ao completar frases que mexem muito com o leitor.

“Eu sou Antônia” não contém discursos mortos, eles pulsam na necessidade de se libertar, buscando sustento na verdade. E não há coisa mais necessária do que a verdade, doa em quem doer. Às vezes seus textos são de uma existência que não cessa de buscar significados nas palavras, sim, as palavras que tem seus pesos e medidas

Não é uma obra-prima, mas anuncia o que virá, que se obstina em ignorar o trivial e ela está certa, o terrível momento da mesmice que se apresenta em vários textos alheios. Ao suportar e driblar o antigo, Antônia se imortaliza no fôlego de gerações na recriação de um estilo único, onde denuncia e rasga preconceitos e idiossincrasias.

Ela não vira as costas para o mundo, pelo contrário, este virar de costas não é sua praia, porque ela concentra a existência em várias páginas quando fala da solidão, do sim e do não, do comportamento, da estupidez, da falta de amor entre as pessoas, e para isso ter sentido ela rasga as páginas do velho calendário.

Antonia prende o leitor daquilo que pressentiram os grandes escritores, de que é preciso tirar o passado a limpo nos ensinando, alinhando motivos e consequências.

À medida que envelhecemos e não o caso dela, ainda é muito jovem e tem muito a mostrar, o talento e toda história escrita dela é uma espécie de literatura que marca, marcou, marcará

O que surpreende mais em seu texto são as iniciativas com vista a lembrar que a cultura é uma resistência brasileira, que não tem hora de acabar. Leiam ´Eu Sou Antonia´

Kapetadas

1 -Escrever é cortar palavras até sobrar o desespero.

2 – Tava aqui pensando né como pode marchar se está soldado?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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