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Juiza de 9a Vara Civel de João Pessoa. Especialista em Gestão Jurisdicional de Meios e Fins e Direito Digital

O ESGOTAMENTO NA SOCIEDADE DO DESEMPENHO

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publicado em 21/10/2025 ás 07h52

O ESGOTAMENTO NA SOCIEDADE DO DESEMPENHO

O sujeito da sociedade do desempenho na modernidade tardia não se submete a nenhum trabalho compulsório. Suas máximas não são a obediência à lei e ao cumprimento do dever, mas à liberdade e à boa vontade. No trabalho, espera-se acima de tudo, alcançar o prazer.

Tampouco se trata de seguir o chamado de um outro, ao contrário, deve ser um empreendedor de si mesmo, neoliberalisticamente falando, ser o seu próprio patrão.

Enquanto a histeria de Freud se mostrava como doença clássica da sociedade disciplinar, na sociedade contemporânea, o excesso de positividade gera uma virada de chave, mudando a lente pela qual novas doenças se apresentam neste cenário, impulsionadas por novas pulsões, agora fruto da incapacidade do ser humano dizer “não”.

A sociedade do desempenho promove a promiscuidade generalizada dos limites, nesse mundo digital, onde a sociedade do cansaço se apresenta, não mais se submetendo à coerção externa ou à autocontenção,  que faz com que o sujeito passe a ser o próprio projeto, cuja autoexploração vem acompanhada do sentimento de liberdade, causando a auto-exploração, conduzindo-o ao sentimento de esgotamento físico e mental.

O projeto pessoal acaba levando o sujeito às doenças da mente, por ausência de limites externos e pressão por um desempenho interno ilimitado, que o leva a se consumir e se destruir internamente, para primar pelo desempenho e, nessa onda de home office, tudo se mistura, e os limites desaparecem, não se sabe mais o que é dia e o que é noite, feriado ou dia santo, produz-se sem se preocupar  para onde foram os limites.

Nesse mundo digital, pobre em alteridade e resistência, movido praticamente pela falta de provisão do princípio da realidade, a sociedade do desempenho, estritamente ligada com as relações de produção capitalista, caminha de mãos dadas com sentimento de auto-exploração, cujo superego repressivo se converte no eu-ideal.

Essa sociedade da positividade, que acredita ter se livrado de todas as coações autodestrutivas, mergulha no excesso de estímulos, fragmentando e destruindo a atenção que conduz à síndrome do pensamento acelerado.

A busca pelo  padrão X, pelo abraço da última tecnologia, pela necessidade de hiperconexão digital, desnuda e desconexa o indivíduo do seu ser, não transformando este ser para morrer, mas o transformando num ser morto para viver.

Ela retira do ser o gosto pelas coisas belas, para remetê-lo a um estágio de sobrevivência, que não delimita sua saúde e que não impõe barreiras aos seus pensamentos e projetos.

Aparentemente, temos tudo, e tudo ficou tão fácil e tão acessível,  que enjoa-se do ter, mas esse excesso nos remete à falta do essencial, do saber, do ser, porque o ter, não nos completa mais, é um vazio existencial, como se tivéssemos perdido toda a conexão com o divino, com o sagrado e com o belo.

Quanto mais hiperconectados, supervisionados e vigiados, mais pobres em tempo, cultura, conhecimento, saúde física e psicológica, afeto e solidariedade!

Adriana Barreto Lossio de Souza

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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