José Nunes
Retornei à fazenda Malhada da Onça na tentativa de encontrar registros que apontassem os caminhos de João Suassuna, depois de adentrar pelos arredores da fazenda Acahuan, outro local onde cultivou seus sonhos. Com a ideia na cabeça, conduzido pelas palavras que ecoam por entre os grotões do Sertão esturricado, tentava refazer a trajetória deste homem injustiçado.
A cada passo em redor de suas antigas paisagens, encontrava o Sertão inculto, de pôr-do-sol esbraseado, com vento de mormaço espalhando gravetos retirados das árvores transformadas em esqueletos. Assim como João Suassuna escreveu, “o Sertão é terra luminosa do sol!”, esta região ainda reclama a dor de perder seu defensor porque não dissipada totalmente.
O tempo passa e a cada retorno aos lugares onde habitou João e seu filho Ariano, recordando as suas palavras postas no papel ou frases repetidas por quem esteve ao seu lado, ainda mais me convenço de que ele foi vítima inocente que tombou ao tiro traiçoeiro, abatido como um passarinho naquela manhã de 9 de outubro de 1930.
Pode até demorar, mas a história irá fazer justiça a este paraibano que tinha a alma do povo, que como poucos sentia o bafo da terra cascalhenta do Sertão. Ele também entendia de onde vinha a brisa amena do Litoral e era abundante em buscar a pacificação dos corações no uso da arte como lenitivo.
Quando trabalhei nas pesquisas que culminou no livro sobre sua vida e suas ações administrativas no governo da Paraíba, fruto de silenciosas noites em claro, descobri gestos praticados por ele, sufocadas por visões que atuaram no escuro.
Continuo admirando João Suassuna, o homem culto que a Paraíba não conhece. Aquele sertanejo de olhar sereno, que estendia às mãos para apaziguar as trovoadas que a política provoca.
Homem de muita sensibilidade, ele gostava da literatura nordestina, e tinha afeição pela cantoria de violeiros e os repentistas desfrutavam de estima junto dele.
A brutalidade do Sertão não fez dele semelhante aos seres que povoavam sua região em final do século XIX e início do seguinte. Era sossegado, dinâmico e espalhava serenidade à paisagem humana de mãos calosas.
Como foi gerado nas brenhas do Sertão, mergulhou nos subterrâneos sociais, por isso entendia o sofrimento do povo que cultiva a terra. Tinha uma união emotiva com sua gente, sem nenhuma oscilação.
Acreditamos que com o passar do tempo, as pedras que impedem a reverência do povo para com a sua figura serão removidas. Então, a Paraíba vai amá-lo ainda mais.
O 9 de outubro deve ser sempre lembrado com acatamento, porque foi nesta data quando um homem que carregava o sonho de sertanejos, foi alvejado traiçoeiramente numa tocaia na esquina de uma rua do Rio de Janeiro porque, nas caatingas do Sertão, seria difícil alvejado.
Os retornos às paisagens de João Suassuna trouxeram a certeza de que nem tudo se transformou em poeira. Muitas coisas estão fixadas no coração dos paraibanos que olham a história sem rancor.
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