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José Nunes da Costa nasceu em 17 de março de 1954, em Serraria-PB, filho de José Pedro da Costa e Angélica Nunes da Costa. Diácono, jornalista, cronista, poeta e romancista, integra a Academia Paraibana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a União Brasileira de Escritores-Paraíba e a Associação Paraibana de Imprensa. Tem vários livros publicados. Escreveu biografias de personalidades políticas, culturais e religiosas da Paraíba.

Poema para mãe

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publicado em 07/05/2025 ás 07h00
atualizado em 06/05/2025 ás 16h59
            O poeta buscou palavras nos dicionários e as imagens da memória para preparar uma canção à mãe, e por mais que as encontrasse não conseguiu descrever o sentimento desejado. Descrever a comoção ao lembrar-se dos gestos de quando ela o acalentava ao colo, o afago do olhar e a suavidade da voz pronunciando seu nome em momentos de traquinagem. Tudo trouxe enorme emoção. Falar sobre o Dia das Mães sempre emociona.
            Tantos anos preparando uma canção. A preparação é lenta e, comovido, todos os dias o poeta coloca no caderno da vida uma palavra, uma frase, um verso que marque o gesto de um filho ausente.
            O poeta nunca esteve tão necessitado de apoio maternal, porque está desprovido da ausência do colo, do afago das mãos e do olhar carinhoso, porque distante, desgarrado e sem aprumo no meio do assombroso rebanho urbano.
            A mulher que o amamentou, colocou ao colo e segurou as mãos para o equilíbrio dos primeiros passos, também ensinou a rezar, balbuciando palavras que ressoam até hoje no silêncio do quarto escuro, ou quando contempla a paisagem do lugar onde viveram. Todos os gestos são lembrados a todos os instantes e nos momentos de aperreio, quando escuta sua voz da mãe a dizer, “no fim tudo dá certo”. A voz angelical de deusa criada pela Divindade mistura-se ao canto mavioso dos pássaros nos jardins e nos canaviais de Serraria.
            No crepúsculo da vida, quando a mãe é saudade, o poeta continua a preparar a canção, mas ela, sentindo o aroma celestial, contempla os filhos e os netos que esperam pelo poema, sempre inacabado.
            O poema não foi concluído. Mas a canção inacabada deste Dia das Mães se constitui em recordar e lembrar os dias cheios de tantas coisas bonitas, calado como convém no tratamento para com nossos entes que fizeram o caminho de volta para o repouso eterno. Aquela que me gerou e me alimentou com o leite da vida, espera o poema.
            Os pães eram multiplicados na mesma proporção de nossas necessidades, provando com isso que as potencialidades humanas sobrevivem em qualquer situação.
            Sua preocupação sempre foi moldar os filhos à semelhança do homem feliz. Buscava dar-lhes o sentimento do mundo, preparando-os para o futuro.
            Temos hoje outras mães heroínas, produto da geração de jovens que tentam conviver com esse mundo estraçalhado pelas mãos nem sempre humanitárias.
            A mãe do poeta buscou, há décadas, receitar o remédio para evitar a futura orfandade deste, para que ele viva menos o tempo da caverna do concreto armado e da cibernética. A Palavra e a Poesia como alimento sagrado. Mesmo que os homens tenham medo uns dos outros, porque não aprenderam a se respeitar, diluíram a semelhança humana com Deus, mas o poeta ainda tenta compor a canção para a mãe, que continua inacabada.
Depois de tantas tentativas, o poema será finalizado quando do retorno à casa paterna.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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