José Nunes
A festa literária e de homenagens no Sol das Letras do mês passado foi para o professor Chico Viana, mas saímos ganhando todos seus leitores e admiradores, presentes ao evento que aconteceu na Academia Paraibana de Letras.
Ainda embalado pelas palavras do poeta e crítico literário Hildeberto Barbosa Filho sobre a trajetória do cronista e estudioso da literatura Chico Viana, me contive o quanto pude para escrever alguma coisa sobre o que presenciamos naquele final de dia e começo de noite. O Pôr do Sol das Letras, como também é conhecido o evento que passou das 100 edições, conduzido pelo inquieto Hélder Moura, este trouxe motivação de sobra para estarmos presentes.
Afora as presenças das professoras Ana Adelaide Tavares relançando seu livro “Mulheres”, a acadêmica Neide Medeiros falando sobre suas pinturas abordando o feminino e a pesquisadora Luma Holanda passeando pelas trilhas do Cangaço, destacando as facetas de Jesuíno Brilhante, e com a apresentação musical de Titá Moura, filho do amigo Fernando Moura, que conheci nos cueiros quando morava do Bairro dos Ipês e de calças curtas, residindo nos Bancários, motivaram minha participação do evento, apesar do tempo chuvoso.
Voltemos ao personagem principal das homenagens da tarde ou boca da noite literária, o professor Chico Viana que, incorporando o perfil de monge do cisterciense, no momento escutava silencioso tudo sem piscar os olhos, disfarçando a emoção, as vezes olhando para os lados, quando o professor Hildeberto Barbosa ressaltou as maravilhas deste estudioso da obra de Augusto dos Anjos, que em sala de aulas edificou castelos de luzes em centenas de jovens.
Não tive o privilégio de estudar com ele, mas na velhice recorro aos seus textos para absorver seus ensinamentos.
Um professor por vocação, Chico Viana foi telhado em seu lar paterno para ocupar as salas de aulas.
Desde o primeiro momento quando largou a Medicina para se dedicar às letras, como mestre da língua portuguesa, soube apontar o sentido das palavras na descrição dos mais difíceis temas literários.
Com ressaltou o confrade Hildeberto Barbosa Filho, o professor Chico Viana, como estudioso da obra de Augusto dos Anjos, é quem mais se destaca pela abordagem das diversas áreas do pensamento poético do paraibano.
“Ele integra o seleto grupo de vozes que buscam em Augusto dos Anjos o que existe de original. Como poucos buscou o estético em Augusto”, ressaltou Hildeberto.
Se o professor Chico é um estudioso e pesquisador de literatura brasileira, este também se eleva como cronista do cotidiano, fazendo abordagem da mais elevada beleza estética e correção gramatical, às vezes se sobressaindo com humor e ironia. “Ele tem muito carinho no uso da língua, no emprego das palavras”, acrescentou.
Ainda segundo o mestre Hildeberto, o professor Chico Viana não é cronista casual, mas “tem o estilo próprio e o olhar atento para o cotidiano, mas sem nunca abandonar o humor nos seus textos”, seguindo o ritmo de Rubens Braga, seu cronista predileto.
Para o leitor comum, como este que nos fala, percebe-se que ele tem sensibilidade estética diante da palavra, porque “a sensibilidade dele é profunda”, como destacou naquela noite o confrade que recepcionou o homenageado do Pôr do Sol Literário.
Se como professor Chico plantou inúmeras árvores da sabedoria, muitas das quais dando bons frutos, fiquei a imaginar que o escritor necessariamente também deve ensinar a cultivar alguma planta.
Descobri novos caminhos para chegar ao conhecimento da obra literárias deste professor de Português, porque, como enfatizou Hildeberto Barbosa, “Chico Viana é um cronista que bebeu nas fontes balizares de Aristóteles e outros filósofos”. Enfim, “sabe harmonizar os mais eloquentes pensamentos”.
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