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José Nunes da Costa nasceu em 17 de março de 1954, em Serraria-PB, filho de José Pedro da Costa e Angélica Nunes da Costa. Diácono, jornalista, cronista, poeta e romancista, integra a Academia Paraibana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a União Brasileira de Escritores-Paraíba e a Associação Paraibana de Imprensa. Tem vários livros publicados. Escreveu biografias de personalidades políticas, culturais e religiosas da Paraíba.

A travessia de Maria  

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publicado em 27/08/2025 ás 07h00
atualizado em 26/08/2025 ás 21h51
 
          José Nunes
           Contrariando Nathanael Alves, que na maioria das vezes sugeria leitura do livro para depois voltar ao prefácio ou a introdução da obra, relacionado ao exemplar de “Viagem no tempo e outros escritos” da professora Maria das Graças Santiago, imortal da Academia Paraibana de Letras, primeiro percorri as páginas iniciais para sentir as impressões dos mestres Hildeberto Barbosa Filho e José Mário da Silva, igualmente acadêmicos, com elevados conhecimentos da arte de escrever e estudiosos da literatura, que deram relevantes insinuações sobre o trabalho da nossa confreira.
         Crônicas de memórias, escritas em linguagem maneira, a autora nos convida a um passeio pela nossa Capital dos anos pós-metade do século passado, período rico nas transformações sociais, econômicas e culturais.
Conduzido pelas imagens cativantes, reveladas com os indispensáveis ornamentos da escrita elegante, o leitor faz a travessia com Maria das Graças pelas paisagens de sua vida, a paisagem da cidade.
As crônicas de Maria das Graças ganham dimensão poética nas palavras que recriam os cenários recuperados das imagens guardadas de sua infância.
Passeamos com a cronista pela cidade que guarda época ainda latente na presença de muitos, dos passeios pela Lagoa do Parque Solon de Lucena, das praças e dos veraneios nas praias semidesérticas do Poço e Camboinha, lugares de grandes emoções.
Nas páginas do livro é possível conhecer o pensamento e o gosto de Maria das Graças Santiago, desde a menina que gostava de livros, começando por Monteiro Lobato até chegar aos romances universais e às grandes obras filosóficas. Seu apego a música começou cedo, e logo passou a tocar piano e a gostar de pintura.
Sua paixão literária é Clarice Lispector, mas se encantou com as pinturas de Renoir e Manet, e na música se deleita com Debussy e Ravel. Considera a literatura de Clarice um tema inesgotável, sempre a exigir uma releitura. “Clarice sempre me espantou e enriqueceu”.
Tendo nascido na Capital, o apego às coisas da Natureza aumentou quando passou a residir em Tibiri, próximo a Santa Rita, lugar com aspectos rurais. O ar fresco do campo invadia a casa dos recém-casados, perfumando todos os ambientes. Se habituou a viver no campo, aumentando sua paixão pela natureza.
Maria das Graças é uma escritora antenada com as novidades da literatura e nas artes ver fonte de renovação espiritual. A cronista sempre retorna aos temas mais eloquentes e definitivos, guardados na memória.
O clima do campo anda com Maria das Graças, como revela em suas crônicas. Saindo da granja de Tibiri, passou a morar no Jardim Luma. Levou consigo o perfume da terra que exalava pelo apartamento, com os pássaros a cantar nas árvores próximas e nas manhãs, o sol preguiçoso penetrava pelas janelas dando aspectos do campo.
A cronista registra tudo o que seu olhar captou, seja nos tempos passados ou abordando assuntos em voga, bem presentes no cotidiano.
A leitura deste livro lembra a travessia de Maria levando o Filho do Altíssimo para o Egito. Sem os desertos egípcios assombrosos, outra Maria conduzindo seu menino Jesus invisível nos transporta por caminhos de nossa cidade, vivendo a docilidade de um tempo ainda vivo na memória de muitos.
No passeio com Maria das Graças pelo seu mundo, o leitor participa dos saberes e sabores que brotam do contato com realidades diferentes da sua, levando-o a “usufruir da magia que essa viagem pode proporcionar na esfera do conhecimento, da imaginação e do prazer”, no dizer do poeta Hildeberto Barbosa Filho.
Para o mestre José Mário da Silva, a escritora Maria das Graças Santiago tem encontrado na crônica o ponto de partida e de chegada para as suas cogitações estéticas e existenciais mais efetivas, “tudo sob os auspícios da palavra da arte e da arte da palavra”.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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