É formado em Direito pela UFPB e exerce funções dedicadas à Cultura desde o ano de 1999. Trabalhou com teatro e produção nas diversas áreas da Cultura, tendo realizado trabalhos importantes com nomes bastante conhecidos, tais como, Dercy Golcalves, Maria Bethania, Bibi Ferreira, Gal Costa, Elisa Lucinda, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Beth Goulart, Alcione, Maria Gadu, Marina Lima, Angela Maria, Michel Bercovitch, Domingos de Oliveira e Dzi Croquettes. Dedica-se ao projeto “100 Crônicas” tendo publicado 100 Crônicas de Pandemia, em 2020, e lancará em breve seu mais recente título: 100 Crônicas da Segunda Onda.
Num condomínio tranquilo e rodeado de verde, Fred, um sanhaço de penas azuis e cinzentas, fazia suas rondas diárias fugindo da vida trivial do bosque. Mas não era uma ronda qualquer. Fred tinha um hábito: ele visitava cada morador que deixava a janela ou espaço aberto, tornando-se o “pássaro de estimação” de vários condôminos, e cada um deles acreditava ser o único a receber suas visitas iluminadas.
O dia de Fred começava no 501, o apartamento da Dona Lúcia, uma senhora que enchia a varanda de girassóis. Fred vinha tomar banho na bacia de água que ela deixava, e Dona Lúcia, com o coração cheio, cochichava para si mesma: “Meu Fred, veio me fazer companhia. Ele sabe que sou especial”.
Depois, voava até o 703, a cobertura de Miguel, um jovem designer. Miguel tinha um “rooftop” minimalista, mas com um único vaso de manjericão. Fred bicava as folhas e Miguel, sorrindo para a tela do computador, em “homeoffice”, dizia: “Só pode ser meu. É o muso da minha criatividade!”.
Ele até fez um desenho digital do pássaro, que chamou de “O Sanhaço Iluminado”.
À tarde, era a vez do 302, onde moravam as crianças João e Maria. Eles deixavam migalhas de pão na janela, e Fred, esperto, vinha se alimentar. Os olhinhos brilhantes deles acompanhavam cada movimento do pássaro. “Ele é nosso, só nosso!”, eles gritavam, convencidos de que Fred era um tesouro guardado em família.
O sanhaço também visitava a família do 404, o casal do 601, o solteirão do 205, a varanda do 303… Para cada um, Fred tinha um tratamento diferente. Um bicado na semente, um voo rasante, a bandinha de mamão da Dona Vânia, até um canto especial para descansar. E em cada um desses apartamentos, a história se repetia: “É o meu pássaro”, “Ele me escolheu”, “Ninguém mais no condomínio tem a sorte que eu tenho”.
E assim, o pequeno pássaro azul continuava sua rotina, trazendo um pouco de mágica para a vida de cada morador, até que Marta do 502, resolveu colocar a foto do “rapaz” no grupo de WhatsApp do condomínio Riviera Doro, não mantendo seu doce segredo a salvo sob o céu dos seus vários tutores. Todos se achavam especiais por tais visitas, mas depois da descoberta, viram que Fred sim que era especial, trazendo um tipo peculiar de alegria para cada um conforme a personalidade.
O segredo de Fred era que ele não pertencia a ninguém, mas sim a todos. Ele era um lembrete vivo de que a alegria pode ser compartilhada, e que o sentimento de ser especial muitas vezes nasce da nossa própria capacidade de enxergar beleza e luz nas coisas simples que no que nos rodeiam.
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