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Graduada em direito e pós graduada em direito criminal e família, membro da academia de letras e artes de Goiás, tenho uma paixão pela escrita Acredito no poder das palavras para transformar realidades e conectar pessoas

Vida suspensa

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publicado em 27/12/2025 ás 10h37

Há gente que não morre de uma vez. Morre aos poucos, como quem fecha janelas para não ver o sol que insiste em entrar. A vida vai se esvaindo, não com um estrondo, mas com pequenos silêncios que vão ficando. Vai se perdendo quando a gente começa a adiar os sonhos só mais um dia, só mais um detalhe, só mais um motivo para deixar para depois.

São pessoas que seguram a própria felicidade com as mãos trêmulas, não porque não a desejem, mas porque aprenderam que desejar demais é pecado, orgulho é erro, e amor que foge do padrão é vergonha. Elas não vivem amores elas os escondem, como quem embrulha o coração em papel pardo e guarda no fundo do armário. A vida enfraquece quando deixamos de dizer “sim” para aquilo que aquece a alma e passamos a responder “depois” até para o que nos faz sorrir.

Essas pessoas não se permitem sentir orgulho do que sentem, porque, no fundo, foram treinadas a acreditar que sentir com altivez é errado, celebrar é exagero, e escolher alguém com brilho nos olhos é quase um delito contra o manual invisível da moral alheia. A vida esmorece quando esquecemos a força dos nossos próprios desejos, quando censuramos a vontade de mudar, de criar, de sentir, como se ousar fosse um erro antigo que não pode ser repetido.

Elas querem agradar a todos, mas nunca a si. Querem existir para a plateia. Vestem vidas que não cabem no corpo, só para sustentar a sensação de normalidade, de encaixe social, de “conduta impecável”, como se a aprovação do mundo compensasse o abandono do que pulsa dentro. A alma começa a morrer devagar, num suspiro lento, quase imperceptível.

São campeãs do “não posso”, mesmo podendo.
Devotas do “que vão dizer?”, mesmo ninguém dizendo nada.
Colecionadoras de culpas que ninguém cobrou.

E assim recusam convites, risos, encontros, músicas, abraços, instantes bonitos. Não porque sejam infelizes, mas porque não têm coragem de ser felizes sem pedir licença. Não assumem um amor com orgulho, por achar que sentir orgulho de amar é errado. Não vivem momentos agradáveis sem se condenar, mesmo quando ninguém as condenou.

Querem viver para a sociedade, mas o que a sociedade aplaude é sempre raso: a foto perfeita, a postura alinhada, a emoção calculada. O que ninguém vê é o avesso: um coração faminto, uma alegria sufocada, uma existência inteira vivida no modo econômico, para não gastar verdades demais.

A consciência não grita retorna. Volta nas insônias, na irritação sem nome, no tédio de uma vida que parece ensaiada. Quando tudo já está decidido por códigos morais e convenções, elas apenas cumprem, repetem, escondem-se atrás da norma. A consciência é silenciada não porque esteja errada, mas porque se tornou inconveniente.

Talvez o maior castigo delas não seja viver errado, mas viver sem viver. Sem orgulho das escolhas, sem amor assumido, sem prazer inocente, sem coragem de ser inteira, porque o inferno real não arde em chamas, ele esfria no peito de quem nunca se assumiu vivo.

Não morra devagar. Reacenda quando a coragem sussurrar, mesmo pequena, mesmo com medo, porque viver de verdade é escolher: sentir, errar, tentar de novo, partir para o risco de ser inteiro.

A vida não espera ensaio. Ela acontece na hora.

Lembre-se: a vida passa rápido demais. A gente pisca e o instante vira ontem. Amanhã pode ser tarde. Viver com coragem não é pressa é urgência, porque a vida está passando. Agora. E ela não volta para buscar quem teve medo de ser feliz. Então, seja!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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